O movimento da desconfiança. Efeitos de intervenções viárias na forma edificada – o caso da Via Mangue, Recife.
insegurança; medo; sintaxe do espaço; forma urbana; interface; Via Mangue
Este trabalho busca compreender nexos entre forma do ambiente construído e indícios de insegurança em espaços públicos. Contextualiza-se a investigação com o histórico de ocupação do caso estudado, os bairros do Cabanga e de Boa Viagem, no Recife, Pernambuco, do início do século XX às últimas grandes intervenções viárias em 2016. A investigação explora a incidência de transformações em características do conjunto edilício em áreas que sofreram mudanças mais acentuadas na estrutura espacial pela inserção da Via Mangue. A revisão bibliográfica, o levantamento de dados quanto a dispositivos de segurança acoplados aos edifícios (câmeras, cercas eletrificadas, outros) e a Análise Sintática do Espaço foram empregados como procedimentos metodológicos. O referencial teórico revelou uma dicotomia entre permeabilidade e defensibilidade do espaço como estratégia de promoção de segurança, assim como o papel da configuração do espaço nos estudos desta natureza. Os resultados sugerem que as mudanças na estrutura espacial da cidade coincidem com o recrudescimento no emprego de artifícios de distanciamento entre espaço privado e espaço público, seja através da própria arquitetura ou com elementos acoplados a ela. O mercado imobiliário também dá sinais de que se beneficia do acréscimo em acessibilidade em novos empreendimentos ainda mais fortificados que os preexistentes. Ainda que não seja uma tendência homogênea, o incremento no potencial de movimento em algumas partes da cidade vêm acompanhados de uma desconfiança em relação ao espaço público, e, no geral, do afastamento dos princípios recomendados como favoráveis à segurança e animação urbanas.