MANEJO DAS DISFUNÇÕES SEXUAIS EM MULHERES EM VULNERABILIDADE EMOCIONAL: GRAVIDEZ, PÓS-PARTO E DEPRESSÃO
Mulher, Gravidez, Pós-parto, Agentes Antidepressivos, Disfunção Sexual, Terapias, Revisão Sistemática, Meta-análise
Introdução: A disfunção sexual feminina é uma condição multifatorial influenciada por aspectos fisiológicos, psicológicos, hormonais e sociais, impactando significativamente a qualidade de vida. Situações específicas, como gravidez, período pós-parto e disfunção sexual induzida por antidepressivos (AISD), apresentam desafios distintos que requerem diferentes abordagens terapêuticas. Objetivos: Sintetizar as evidências disponíveis sobre intervenções não farmacológicas e farmacológicas para o tratamento da disfunção sexual feminina em diferentes contextos. Métodos: Foram conduzidas três revisões sistemáticas e meta-análises seguindo as diretrizes PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses), incluindo exclusivamente ensaios clínicos randomizados (ECRs). As buscas foram realizadas nas bases de dados PubMed, Scopus, Web of Science, Embase, PsycINFO, PEDro, Cochrane Central e ClinicalTrials.gov. O risco de viés foi avaliado pela ferramenta The Risk of Bias 2 (RoB 2), e a certeza da evidência foi classificada segundo o Grading of Recommendations Assessment, Development and Evaluation (GRADE). Resultados: Para a disfunção sexual na gravidez, foram incluídos 24 estudos (1.557 participantes), dos quais nove foram selecionados para a meta-análise. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) aumentou os escores do Índice de Função Sexual Feminina (FSFI) em 6,82 pontos (IC 95%: 1,63–12,01, p=0,010, I²=73%). O modelo PLISSIT (Permissão, Informação Limitada, Sugestões Específicas e Terapia Intensiva) elevou os escores do FSFI em 6,07 pontos (IC 95%: 3,80–8,35, p=0,00001, I²=80%), enquanto intervenções de educação sexual promoveram um aumento de 5,82 pontos (IC 95%: 4,19–7,46, p=0,00001, I²=81%). Para a disfunção sexual no pós-parto, 22 estudos foram incluídos (5.390 artigos analisados), com oito (634 participantes) incorporados à meta-análise. As intervenções avaliadas incluíram o modelo PLISSIT (MD: 1,56; IC 95%: 1,27–1,84; I²=0%), exercícios do assoalho pélvico (MD: 4,27; IC 95%: 1,23–7,32; I²=99%) e exercícios de Kegel (MD: 41,54; IC 95%: 33,27–49,80; I²=99%). No entanto, a qualidade da evidência foi classificada como muito baixa devido à heterogeneidade dos estudos. Para a AISD, foram revisados 11 ECRs (859 participantes) que avaliaram tratamentos farmacológicos. A bupropiona SR 150 mg/b.i.d. demonstrou melhorias significativas no desejo sexual (MD: 1,74; IC 95%: 1,03–2,44, p=0,00001), excitação (MD: 1,30; IC 95%: 1,16–1,43, p=0,00001) e orgasmo (MD: 1,90; IC 95%: 1,78–2,02, p=0,00001), sem impacto significativo nos sintomas depressivos (MD: 0,46; IC 95%: -0,71–1,63, p=0,44). A qualidade da evidência foi considerada baixa. Conclusões: As intervenções não farmacológicas, como TCC, modelo PLISSIT e educação sexual, são eficazes para o tratamento da disfunção sexual feminina durante a gravidez e o período pós-parto. Na AISD, a bupropiona SR 150 mg/b.i.d. demonstrou potencial terapêutico. Enfatiza-se a necessidade de ECRs com maior rigor metodológico para corroborar com esses dados.