CONSUMO ALIMENTAR EM PACIENTES COM ESCLEROSE LATERAL AMIOTROFICA
Esclerose lateral amiotrófica; consumo alimentar; micronutrientes; questionário de frequência alimentar.
A esclerose lateral amiotrófica (ELA) é uma doença neurodegenerativa rara, de causa multifatorial, caracterizada pela degeneração dos neurônios motores e atrofia muscular. O comprometimento dos músculos da deglutição, a baixa ingestão alimentar e o hipermetabolismo são as principais causas da desnutrição nessa população. A desnutrição diminui a sobrevida e a qualidade de vida dos indivíduos com ELA, portanto, abordar perguntas de pesquisa sobre o consumo alimentar em variadas dimensões, representa uma contribuição para o cuidado nutricional desta população. O objetivo desta tese é avaliar o consumo alimentar de indivíduos com ELA. Para isso, a tese apresentada reúne três estudos. O estudo 1, observacional transversal, avaliou a prevalência de inadequação da ingestão de micronutrientes em indivíduos com ELA e verificou a associação entre a ingestão de nutrientes e a severidade da doença. O estudo 2, uma revisão de escopo, mapeou os questionários de frequência alimentar (QFA) desenvolvidos e validados no Brasil. No estudo 3, transversal, foi desenvolvido e validado um QFA curto quantitativo para identificar a frequência de consumo de alimentos energéticos e proteicos em indivíduos com ELA. O estudo 1 foi realizado com dados de prontuários de 69 indivíduos. A avaliação da gravidade da ELA foi determinada pela Escala Funcional da ELA revisada (ALSFRS-R). A prevalência de inadequação da ingestão de micronutrientes foi estimada usando a Estimated Average Requirements (EAR) como ponto de corte. Para a revisão de escopo (estudo 2) foram incluídos estudos de desenvolvimento e validação do QFA realizados no Brasil. A revisão foi conduzida de acordo com a metodologia do Joanna Briggs Institute para revisões de escopo. Os bancos de dados de pesquisa incluíram PubMed/MEDLINE, LILACS, Embase, Web of Science (ISI), Scopus e Google Scholar. O estudo 3 foi conduzido com dados de Recordatórios de 24 horas (R24h) de prontuários de 69 indivíduos com ELA. A escolha dos itens alimentares que compuseram a lista de alimentos ocorreu mediante seleção dos alimentos que contribuíram em até 90% para o consumo de energia e proteínas. O estudo de validação foi conduzido com 39 indivíduos com ELA e utilizado o R24h como método referência. No estudo 1 a prevalência de inadequação da ingestão de vitamina D, E, riboflavina, piridoxina, folato, cobalamina, cálcio, zinco e magnésio foi considerada grave. Indivíduos com menor ALSFRS-R score apresentaram ingestão mais baixa de vitamina E (p<0,001), niacina (p=0.033), ácido pantotênico (p=0,037), piridoxina (p=0,008), folato (p=0.009) e selênio (p=0.001). No estudo 2 (revisão de escopo) foram identificados 96 artigos desde o final da década de 1990, abrangendo diversas regiões do Brasil: Sudeste (n=51), Sul (n=16), Nordeste (n=13), Centro-Oeste (n=7), Norte (n=1) e duas ou mais regiões ou populações (n=8). Nos últimos dez anos, foram identificados 30 estudos de validação de QFAs, com foco em crianças e adolescentes (n=8), adultos (n=9), adultos e idosos (n=7) e gestantes (n=6). No estudo 3 foi construído e validado um QFA curto quantitativo autoadministrável, contendo 21 itens alimentares e registro fotográfico para cada um dos itens. O QFA foi delineado com sete categorias de frequência de ingestão e período de avaliação da ingestão de energia e proteínas de um mês pregresso. O QFA foi considerado fracamente válido (r=0,336; p=0,037) para estimar a ingestão de proteínas e reprodutível para estimar a ingestão de energia (CCI=0,553; p=0,02). Os achados dos estudos enfatizam a importância do monitoramento do consumo alimentar de indivíduos com ELA. Uma vez que não foi encontrado QFA desenvolvido e validado para indivíduos com ELA, um QFA curto autoadministrável para avaliação da ingestão de energia e proteínas foi construído e validado para indivíduos com ELA.