O ESPAÇO NO ESCURO: a vivência dos cegos como base para a compreensão sensível da área urbana
Pessoas cegas; Espaço Urbano, Experiência Ambiental; Percepção ambiental; Orientação e Mobilidade.
Esta pesquisa se desenvolveu a partir de uma pergunta inicial: Como o entendimento do espaço urbano por pessoas que não dispõem do sentido da visão pode contribuir para o planejamento de uma cidade mais adequada a todas as pessoas? Como resposta preliminar a essa questão defendemos a hipótese que o reconhecimento da percepção sensível da cidade pelos cegos possibilitaria a utilização mais consciente dessas informações pelo planejamento urbano, tornando a cidade mais acessível a todos. Assim, com base nos aspectos sociais e físicos da deficiência visual, a presente tese se dispôs a investigar os recursos utilizados pela pessoa cega durante a sua locomoção no ambiente urbano. Nesse contexto, o objetivo geral do estudo empírico tratou de compreender os elementos que compõem a percepção do espaço urbano pelas pessoas cegas, a fim de detectar ideias favoráveis ao planejamento do espaço urbano. Conduzidos por um paradigma de análise espacial fundamentado no ser humano e na relação pessoa-ambiente, a investigação analisou a percepção de pessoas cegas durante a sua movimentação pela cidade, tendo como alicerce suas condições de orientação/mobilidade e os conceitos de ambiência urbana, experiência ambiental, affordance e wayfinding. A fim de provocar a discussão sobre estratégias multissensoriais utilizadas na compreensão do espaço urbano, evocando sentidos como o olfato, audição, tato e o paladar, a pesquisa ocorreu em dois momentos a saber: (i) visita a centros de treinamento de orientação e mobilidade; (ii) contato com pessoas cegas dispostas a contribuir com a pesquisa e que apresentassem condições para mobilidade autônoma pela cidade. Visando compreender os recursos utilizados cotidianamente por estas pessoas em seu processo de locomoção, essa última etapa correspondeu a um experimento planejado que ocorreu em um setor urbano adjacente ao Instituto de Cegos do Rio Grande do Norte, no bairro do Alecrim, Natal, RN. A atividade incluiu entrevistas individualizadas, percurso comentado acompanhado de recursos tecnológicos, desenho estória e grupo focal, os quais subsidiaram a confecção de mapas sensoriais da área urbana escolhida. Esse documento apresenta parte da tese em desenvolvimento, a ser defendida até o final do semestre 2019.2. Até o presente momento, os dados obtidos indicam que ser possível afirmar que o reconhecimento/identificação do ambiente pelos cegos é subsidiado por sua percepção, cognição e memória, e que a análise do movimento deste corpo no espaço possibilita a definição de subsídios multissensoriais para uma projetação arquitetural que, não apenas proporcione mais inclusão espacial de tais indivíduos, mas que represente qualidade ambiental para todas as pessoas.