O iceberg celíaco: dos marcadores sorológicos à histologia e formas clínicas da doença celíaca em crianças e adolescentes de risco.
Doença celíaca, síndrome de Down, diabetes mellitus tipo1, crianças, adolescentes, grupos de risco.
OBJETIVOS: avaliar sintomas digestórios e extradigestórios em crianças e adolescentes com diabetes mellitus tipo1 (DM1) e síndrome de Down (SD), a positividade de marcadores sorológicos por triagem ampliada e identificar as formas de apresentação clínica da doença, representadas no iceberg celíaco, com base em achados histopatológicos.
MÉTODOS: estudo de corte transversal desenvolvido no hospital de pediatria da UFRN, no período entre novembro/2009 a dezembro/2012, que incluiu o universo de pacientes cadastrados nos programas de assistência ao DM1 e SD, de ambos os sexos, que ingeriam glúten regularmente, há pelo menos 3 meses. Coletaram-se dados clínico-epidemiológicos e amostra de sangue para a dosagem de IgA e pesquisa de anticorpos EMA-IgA, anti-tTG-IgA e antitTG-IgG naqueles com IgA diminuída para idade. Biópsia de intestino delgado (BID) foi realizada nos pacientes marcadores positivos e caracterização histológica segundo MARSH-OBERHUBER. Realizado exame físico e o estado nutricional foi avaliado com base na curva de percentil da OMS (2006/2007) para o grupo DM1 e a curva de percentil de CRONK et al (1988) para o grupo SD. As formas clínicas da DC foram representadas no iceberg celíaco. Utilizou-se o software SPSS versão 17.0 para análise estatística.
RESULTADOS:188 crianças e adolescentes (DM1 n=111; SD n=77), 102 feminino e 86 masculino, de idade entre 10 meses a 18 anos. Sintomas digestórios em 101 e extradigestórios isolados em 8 pacientes. Sorologia positiva em 53 (DM1n=32; SDn=21; p=0,816) e associação com sintomas digestórios (38/53; p=0,002*), não observada entre estes e a histopatologia da DC, à exceção do sintoma vômito. BID realizada em 40, confirmando doença celíaca em 15 pacientes (DM1n=5; SDn=10; p=0,003*). A doença se apresentou de forma clássica (10,0%), parte visível do iceberg celíaco, atípica (22,5%), silenciosa (5,0%) e latente (67,5%), que representaram a parte submersa do iceberg.
CONCLUSÕES: a população estudada apresentou vasta ocorrência de sintomas digestórios, entretanto, a sua presença pode representar manifestações da própria enfermidade do DM1 e da SD, e assim serem variáveis confundidoras. Considerando o iceberg celíaco, a maioria dos pacientes com doença celíaca ativa encontrou-se submerso, sendo a forma atípica a apresentação clínica predominante. O maior percentual da forma latente reforça a necessidade da triagem sorológica sistemática nesses grupos, cujos pacientes devem ser monitorados quanto ao desenvolvimento futuro da doença ativa. Para essa clientela de risco, o rastreamento sorológico ampliado seria mais apropriado.