CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS E FORMAÇÃO LEITORA: UMA INTERVENÇÃO A PARTIR DO RECONTO DE MITOS INDÍGENAS NUMA ESCOLA PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE EXTREMOZ-RN
Literatura indígena. Contação de histórias. Recepção. Ensino de literatura.
A pesquisa objetiva investigar como se deu a recepção da obra As serpentes que roubaram a noite e outros mitos (2011), do escritor indígena Daniel Munduruku, por um grupo de três sujeitos participantes, adolescentes entre 14 e 16 anos, alunos de uma turma de oitavo ano de uma escola pública em Extremoz-RN. A pesquisa-ação de caráter qualitativo está em desenvolvimento, tendo como etapas o reconto dos mitos lidos e a posterior discussão da obra com os sujeitos numa roda de conversa. A dissertação se baseia principalmente na Lei 11.645/2008 da obrigatoriedade do ensino de história e cultura africana, afro-brasileira e indígena e na Base Nacional Comum Curricular- BNCC (2018) que orienta o desenvolvimento da habilidade de contar e recontar histórias no Ensino Fundamental II. Tivemos como aporte teórico os estudos de pesquisadores da contação de histórias como Cléo Busatto (2006), Eliana Yunes (2012) e Élie Bajárd (2016), o último com o conceito de reconto, que é central à pesquisa e diz respeito a uma metodologia que aponta para a tradição oral e para a reconstrução do texto. Quanto à reflexão sobre a literatura indígena, partimos das pesquisas das autoras Janice Thiél (2012, 2013, 2016) e Maria Inês de Almeida e Sônia Queiroz (2004). A concepção de mito e as mitologias indígenas são abordadas a partir das contribuições do antropólogo Cláude Levi-Strauss (1978) e dos mitólogos Mircea Eliade (1972), Joseph Campbell (1990) e dos pensadores indígenas como Daniel Munduruku (2008, 2015, 2017, 2018, 2019) e Ailton Krenak (2019). Na análise dos textos recontados, interpretamos os dados a partir do referencial teórico apresentado e tivemos os seguintes resultados: os sujeitos participantes deram aos mitos sentidos que foram influenciados por seus saberes prévios quanto às culturas indígenas, seus horizontes de expectativa em relação à obra e a diferença dos horizontes históricos do leitor e da obra (Hans Robert Jauss, 1994, Maria da Glória Bordini e Vera Teixeira Aguiar, 1993), provocando estranhamento a alguns aspectos culturais presentes nas narrativas, assim como o não reconhecimento dos seres sobrenaturais.