MOVIMENTOS ARGUMENTATIVOS NO LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Texto didático. Argumentação. Marcas linguísticas. Enunciados. Livro didático
Esta dissertação investiga modos de argumentar em um livro didático (LD) de Língua Portuguesa. Concentramo-nos em dois momentos do livro didático: o primeiro respeita aos enunciados que compõem os textos introdutórios – que nomeamos “textos didáticos” – que abrem o LD para comentar, expor, apresentar qual gênero textual será abordado em cada Unidade; o segundo respeita aos enunciados de uma seção específica, nomeada “Antes da Leitura”. O que há em comum entre essas duas seções é a interlocução que o LD mantém com seu principal interlocutor, o aluno. Assim, nessas seções, percebe-se uma interlocução direta com o aluno, desenhada através de modos específicos de argumentar, cujo objetivo é capturar a atenção ou o interesse do aluno. Esses modos são os operadores argumentativos, os modalizadores, os pressupostos e os subentendidos. Por operadores argumentativos, entendemos os elementos responsáveis pelo encadeamento dos enunciados, estruturando-os em textos e determinando a sua orientação discursiva. Os modalizadores são elementos linguísticos que funcionam como indicadores das intenções, sentimentos e atitudes do locutor com relação ao discurso. O subentendido permite significações na dependência do raciocínio do interlocutor em torno do enunciado. O pressuposto, por sua vez, não depende apenas do raciocínio do interlocutor, pois está na língua, presente nas frases dos enunciados. Tratam-se de conceitos oriundos de pressupostos teóricos da Linguística Textual e da Teoria da Argumentação da Língua, perspectivas teóricas adotadas em nossa pesquisa. Analisamos esses modos de argumentar nos textos didáticos do Livro Didático “Universos: Língua Portuguesa” do 9º ano do ensino fundamental, usado nas escolas públicas do estado do Rio Grande do Norte nos anos de 2017 a 2019. Como resultados, nossa investigação possibilitou uma verificação dos encadeamentos argumentativos e dos indicadores de intenção presentes nos enunciados por meio da análise das marcas linguísticas. Verificamos que o livro didático apresenta uma arquitetura que busca capturar o aluno, tendo-o como principal interlocutor, mas, por outro lado, considera estar diante de aluno ideal, cujos conhecimentos prévios, por exemplo, são, em grande maioria das vezes, supostos.