FILME PUBLICITÁRIO E(M) DIALOGIZAÇÃO: processos de refração no projeto de dizer de um gênero híbrido
Filme publicitário. Projeto de dizer. Relações dialógicas. Signo ideológico. Contemporaneidade.
Esta pesquisa interroga a esfera discursiva responsável por criar e publicar os enunciados que suscitam o consumo mercadológico. Seu objetivo capital é compreender a atual configuração do projeto de dizer do gênero filme publicitário, considerando, especificamente, seus exemplares produzidos para o Dia das Mães e o Natal na contemporaneidade. Ademais, empenha-se em construir inteligibilidade sobre o alinhamento do(s) discurso(s) publicitário(s) com o(s) de seus (supra)destinatários. Para tanto, aborda enunciados de quatro grandes marcas no Brasil, a saber, Johnson & Johnson, Natura, Renner e O Boticário, e tece uma rede teórico-metodológica cuja linha mestra corresponde aos postulados do Círculo de Bakhtin, nomeadamente os que discorrem sobre linguagem, relações dialógicas, signo ideológico, gênero do discurso, enunciado concreto, projeto de dizer e forças centrípetas e centrífugas. Tais noções são articuladas a discussões advindas de pensadores dos Estudos Culturais e a concepções importadas da área da Comunicação. Situado na Linguística Aplicada, em seu caráter trans ou indisciplinar para abordar as práticas discursivas/sociais concretas, este estudo adota o paradigma interpretativista, em cooperação com o método indiciário, assumindo uma orientação sócio-histórico-dialógica. As interações com os filmes publicitários constituintes do corpus possibilitaram conhecer e sistematizar elementos e embates dialógicos e ideológicos que atravessam e caracterizam a (re)configuração comunicativa desses enunciados verbivocovisuais tão difusos na contemporaneidade. Arquitetados por um projeto híbrido, tais filmes são tensionados por valores estabelecidos ao longo de uma tradição e por sua reivindicada reavaliação no tempo presente, abrindo-se, engenhosamente, à diversidade não apenas na sua composição, ou seja, nos formatos e nas materialidades em que se expressam, mas na sua configuração, isto é, nas suas matrizes intencionais e nos meios de organização da sua arquitetônica. A análise dos dados propiciou a compreensão de que o projeto de dizer publicitário, delineado para vender, a finalidade imorredoura da archaica do gênero, pode apresentar (con)fusão, predominante ou parcial, com discurso não comercial; (sub)limação do discurso comercial; ou justaposição com discurso não comercial. Em todos esses casos, seu propósito discursivo primo se (re)vela ao se alinhar a avaliações sociais contemporâneas, responsivas a seus (supra)destinatários. Nesse quadro, marcas e produtos podem atuar como termos complementares, essenciais, acessórios ou independentes no todo enunciativo, mediante a unidade de seu projeto de dizer, definido axiologicamente no primeiro instante de sua criação e implicado em cada mo(vi)mento de sua configuração discursiva. Em suma, vinculados a datas extremamente consolidadas na cultura, esses enunciados emocionam, entretêm, persuadem, enquanto refletem e refratam valores sociais e mercadológicos para se consagrar em um fundo dialógico, por vezes, conservador e estereotipado.