“SOU MELHOR QUE A MINHA FAMA”:
A presença de Schiller nos jornais do Brasil dos Oitocentos
Imprensa Brasileira; Friedrich von Schiller; Transferência Culturais; Memória Cultural
Os jornais, essencialmente no período oitocentista, assumiram um papel significante: além de informar, exerceram também a função de formar novos leitores. O contexto social e histórico da época proporcionou um aumento da circulação transatlântica de ideias e bens culturais, fazendo com que autores como Schiller, Goethe, Schlegel e outros chegassem também aos leitores brasileiros. Utilizando o acervo de dados da Hemeroteca Digital Brasileira, analisaremos no presente trabalho a presença de Friedrich Schiller na Imprensa Oitocentista brasileira. Investigam-se as conjunturas e argumentos que envolvem a tradução, circulação e a construção imagética do autor alemão representante do movimento Tempestade e Ímpeto e do Classicismo de Weimar, os quais são exemplificados nas publicações com ocorrências dele nos periódicos brasileiros. Destacaremos os seguintes periódicos: o Diário do Rio de Janeiro (1821-59/1860-78) e o Jornal de Recife (1859-1938) e Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal (1848 – 1868). Schiller é introduzido no Brasil em meados do século XIX através de traduções e apresentações teatrais. Entre os tradutores do autor alemão estão o escritor sergipano Tobias Barreto e o poeta maranhense Antônio Gonçalves Dias. As contribuições apresentam uma heterogeneidade surpreendente de estratégias de informação e divulgação do referido autor, considerado canônico em seu país de origem, sendo incluindo e presente via as dinâmicas de tradução e circulação de periódicos como parte de um cânone universal. Além da variedade temática, interdisciplinaridade e a frequência nas menções a Schiller e suas obras, destaca-se assuntos como a sua amizade com Goethe e curiosidades sobre sua vida pessoal. Além dos elogios, percebem-se em vários momentos ressemantizações das ideias estéticas de Schiller e o interesse em abordar, por exemplo, no contexto de discursos sobre a formação da própria literatura e sociedade brasileira discussões críticas sobre Die Räuber [Os Bandoleiros] com ênfase na função moral do herói e na compreensão diferente da temática sobre liberdade. Perscrutamos no primeiro momento da análise apresentar esse cenário através da categorização das menções ao escritor nos periódicos, são elas: obras, fatos e curiosidades biográficas, críticas e análises, Schiller e outros autores, teatro e leilões, vendas e aquisições. No segunda parte, aprofundamos a presença de Schiller no contexto dos seus tradutores do século XIX. Tratamos do corpus com base no conceito teórico-metodológico de Transferências culturais de Michel Espagne (2017) e de Pascale Casanova (2002), além da abordagem econômico-sociológica de Pierre Bourdieu (2002). Utilizamos como referencial para os jornais históricos a partir da perspectiva transatlântica da história dos impressos as coletâneas de Granja e Luca (2018), Guimarães (2012) e Barbosa (2007). Entendemos a presença de Schiller como mosaico relevante na formação da memória cultural estrangeira da Literatura brasileira dos Oitocentos. E destacamos com o presente trabalho o potencial ainda pouco explorado dos jornais históricos brasileiros, contribuindo para esses novos olhares para áreas de Literatura Comparada, História da Imprensa e Estudos Germanísticos no Brasil.