Ensino de argumentação em livro didático
Ensino de Língua Portuguesa. Ensino de argumentação. Livro didático. Prática social. Gêneros discursivos.
Há aproximadamente 150 anos, ensina-se Língua Portuguesa no Brasil. Durante todo esse tempo, mudanças vêm sendo operacionalizadas por diferentes forças institucionais: documentos oficiais que parametrizam esse ensino, políticas públicas de formação de professores, pesquisas acadêmicas, livros didáticos. Com a publicação da Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017), mais algumas mudanças vêm sendo propostas. Duas delas são a formalização do trabalho com competências e habilidades e o destaque à competência da argumentação, que passa a ser obrigatória em toda a educação básica. Isso tende a redimensionar o ensino de Língua Portuguesa porque o conceito de argumentação da BNCC focaliza a interação social e, consequentemente, usos da linguagem nas mais variadas esferas de atividade humana. Assim, torna-se ainda mais imperioso, durante o processo de escolarização, proporcionar aos alunos situações nas quais a argumentação seja o meio de resolver conflitos, de chegar a consensos e de trabalhar colaborativamente em função de metas a conquistar. Devido a isso, materiais didáticos e ações docentes precisam se adequar. Essas adequações passam por incorporar a argumentação como objeto de ensino e desenvolver um trabalho em função dos usos sociais, o que já vem sendo estudado por alguns pesquisadores brasileiros, a exemplo de Ribeiro (2009); Liberali (2013); Aquino (2018); Azevedo; Tinoco (2019). Para contribuir com essa reflexão, nesta pesquisa documental de caráter qualitativo e interpretativista, objetivamos, de maneira geral, investigar a proposta de ensino de argumentação na coleção didática Geração Alpha Língua Portuguesa, aprovada no PNLD 2020, e de modo específico, analisar os diferenciais do trabalho com a argumentação na seção Interação da citada coleção. Ancorada metodologicamente na área da Linguística Aplicada (MOITA LOPES, 1996; KLEIMAN; DE GRANDE, 2015), esta dissertação se fundamenta teoricamente em dois campos centrais: os estudos de letramento de vertente sociocultural (KLEIMAN, 1995; TINOCO, 2008) e a perspectiva interacional da argumentação (GRÁCIO, 2010; PLANTIN, [1996] 2010; SANTOS; AZEVEDO, 2017). A análise dos dados evidencia que a proposta de ensino de argumentação por meio de projetos que aglutinam os eixos da leitura, da produção de textos (orais, escritos, multissemióticos), da oralidade e da análise linguística/semiótica estimula, nos estudantes, o uso da argumentação em diferentes ações sociais mediadas por diversas linguagens. Com isso, a argumentação deixa de ser apenas um objeto de ensino para se tornar uma prática social, algo que se vivencia, ou seja, competência que pode subsidiar a ação social na escola e além dela.