A Mãe, a Meretriz, o Pai e o Sátiro: Empatia e Denúncia da Dominação Masculina em Augusto dos Anjos
mãe; meretriz; pai; sátiro; dominação masculina; estudos de gênero.
A obra de Augusto dos Anjos se caracteriza, entre outros aspectos, por marcados contrastes e antagonismos. Um desses contrastes se encontra entre as figuras da Mãe e da Meretriz, sendo as principais oposições entre elas o caráter reprodutor (presente na Mãe e ausente na Meretriz) e o caráter sexual (ausente na Mãe e presente na Meretriz). A partir da constatação do repúdio à sexualidade e à reprodução sexuada na obra do poeta (Viana, 1994), e tendo em vista que o sexo é representado na ideologia androcêntrica do Ocidente como um ato de dominação masculina (Bourdieu, 2002) e que a reprodução humana é em geral compreendida também como imbuída de uma relação de poder dos homens sobre as mulheres (Beauvoir, 2009), analisamos alguns sonetos e trechos de poemas longos de Augusto dos Anjos para compreender como a estética subversiva do poeta paraibano veicula uma possível denúncia da opressão do Patriarcado sobre as mulheres. A empatia que o eu-lírico demonstra pelos seres oprimidos nos permite enxergar de perto a imagem da Mãe e o drama de ver seu próprio corpo alienado pela patrilinearidade. Essa mesma empatia nos aproxima da figura da Meretriz, nos fazendo sentir a exploração sexual de seu corpo. As imagens do Pai e do Sátiro são trazidas à tona como duas faces do masculino que exercem a dominação masculina de duas formas, uma através do controle da reprodução e a outra através do controle da sexualidade, respectivamente.