Agricultura Familiar e Gênero no Contexto da Pandemia da COVID-19: impactos e estratégias de vida de mulheres rurais em área remota do Nordeste brasileiro
Palavras-chave: Agricultura familiar; Segurança Alimentar e Nutricional; Mulheres Rurais; Pandemia
Esta pesquisa pretende analisar os impactos da pandemia da COVID-19 na vida das mulheres rurais agricultoras em um município do interior do Nordeste brasileiro. Para tanto, foram aplicados questionários e realizadas entrevistas semiestruturadas e com uma representante da direção do Sindicato Municipal de Agricultura Familiar e com 30 agricultoras sindicalizadas no referido sindicato em Jaçanã, situada na Região do Trairi no Rio Grande do Norte. O questionário estava subdividido em quatro módulos: 1º) identificação das agricultoras familiares; 2º) caracterização socioeconômica; 3º) Informações sobre Segurança Alimentar e Nutricional, baseado na Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA). Essa escala é um instrumento de coleta validado pela população brasileira para classificar famílias em situação de insegurança alimentar leve, moderada ou grave. As entrevistas semiestruturadas buscou compreender as questões discursivas de gênero no contexto da agricultura familiar durante a pandemia. Trata-se de um estudo transversal de abordagem quali-quantitativa com natureza descritiva e analítica na perspectiva da abordagem teórico-metodológica marxista. Para análise dos resultados quantitativos foi utilizado o Programa Statistical Package for Social Science (SPSS) for Windows versão 20.0 com a análise estatística descritiva. Já os dados qualitativos foram avaliados a partir da análise temática, considerando aspectos da análise dialética marxista. Observou-se que a maioria das mulheres são adultas entre 22-82 anos (87%), possuem renda abaixo de um salário-mínimo (77%), plantam feijão, criam aves e destas apenas 4% encontram-se em segurança alimentar. As mulheres rurais agricultoras encontram-se no cenário de vulnerabilidade estrutural marcada por uma economia de cuidado agravada no contexto pandêmico. Durante a pandemia esse grupo de mulheres agricultoras sofreram impactos na saúde, na educação dos (as) filhos (as), na economia pelo elevados preços de mercado e redução da renda familiar pela interrupção temporária de feiras livres, restaurantes e PNAE. Ademais, a crise sanitária e socioeconômica escancarou a necessidade de construção de políticas públicas voltados a valorização, reconhecimento e remuneração do trabalho de cuidados historicamente feminizado, sobretudo, para as mulheres rurais na luta pela garantia dos seus direitos e direitos coletivos de alimentar-se bem o país. Constata-se que se faz necessário a retomada dos investimentos, ampliação e refundação de políticas públicas de fortalecimento da agricultura familiar e combate a fome.