Base molecular da interferência do mercúrio no organismo
Mercúrio, Proteínas de ligação ao Mercúrio, Vias metabólicas alteradas pelo mercúrio, Biologia de Sistemas, Toxicologia de sistemas.
O mercúrio (Hg) é um metal pesado naturalmente presente no meio ambiente, porém ações antropogênicas por volta dos últimos cinco séculos são responsáveis por aumentar em 450% a disponibilidade de mercúrio no ambiente. Sua importância econômica está relacionada à sua capacidade de formar amálgamas com outros metais, sendo usado para a mineração de prata e ouro. A exposição ao mercúrio inclui: exposição ocupacional, como das pessoas que trabalham em minas de prata, ouro e carvão; uso de amálgamas dentais; atividade vulcânica; e o consumo de alimentos contaminados por metilmercúrio (MeHG), o qual é bioacumulável e a principal forma de contaminação de humanos e outros animais. Dentre os sintomas decorrentes da exposição inclui-se náusea, vômito, tremor, dificuldade para respirar, distúrbios sensoriais, ataxia, disartria, constrição do campo visual, distúrbios auditivos. Os sintomas são consequência do acúmulo de mercúrio no organismo, porém o mecanismo pelo qual o Hg age no organismo gerando esses sintomas ainda não está completamente elucidado. Com o objetivo de compreender o mecanismo pelo qual o mercúrio causa intoxicação e identificar as vias metabólicas as quais estão sendo alteradas, foi efetuado a curadoria das informações presentes na literatura referentes às proteínas que o mercúrio se liga. A partir da busca por dados transcricionais presentes em repositórios públicos, identificamos e analisamos um dataset de cultura de células (hESCs) expostas a compostos de mercúrio (MeHG, HgCl2 e HgBr2) com finalidade de validar as informações da literatura. Por meio da busca na literatura encontramos 21 proteínas ligadas ao mercúrio, as quais o sítio mais provável de ligação são os resíduos tióis. No ensaio de expressão diferencial, identificamos 53 genes up-regulados e enriquecidos para 139 processos biológicos, quanto aos down-regulados detectou-se 4 genes e 43 processos biológicos enriquecidos, contudo o gene PTPRZ1 é envolvido em 34 deles. Por meio desta análise é possível concluir que o mercúrio é capaz de alterar vias biológicas relacionadas à morte celular, como a via de senescência celular, descrita na literatura, que por sua vez, antecede o processo de morte celular, e as vias relacionadas à migração celular.