A Teoria da Objetivação na Educação Infantil: contribuições para a educação científica
Teoria da Objetivação; Educação Infantil; Educação Científica.
O objetivo geral desta pesquisa foi investigar as contribuições da Teoria da Objetivação (TO) no processo de ensino e aprendizagem de saberes científicos na Educação Infantil. A TO, surgiu nos anos 90 com raízes na educação matemática e firmou-se como um referencial teórico abrangente, aplicável a outras áreas, como o Ensino de Ciências. Para a TO, a aprendizagem é um encontro com formas historicamente constituídas de pensar e agir sobre o mundo, estruturado por uma perspectiva coletiva e de entrelaçamento dialético entre os sujeitos e seus contextos histórico-culturais. Esse processo é único e envolve tanto os processos de objetivação (o encontro com o saber) quanto os de subjetivação (transformação dos sujeitos) em sujeitos críticos e éticos. O objeto desta investigação focou no processo de filtração da água utilizando o filtro de barro, em uma turma da pré-escola da Educação Infantil, com crianças de cinco anos, de uma creche municipal da cidade de Araruna/PB. Esta escolha integra-se ao projeto didático da professora pesquisadora devido ao contexto sociocultural das crianças, que utilizam o filtro de barro em suas residências e na creche, reforçando a importância nacional e local do objeto para a saúde pública e o acesso à água potável. De caráter qualitativo e fundamentada na TO, a metodologia envolveu a elaboração e implementação de uma Atividade de Ensino e Aprendizagem (AEA) sobre filtração da água, por meio do trabalho colaborativo entre professora pesquisadora, monitoras e crianças. Os dados foram obtidos por meio da gravação de vídeo e áudio e submetidos à análise multimodal (verbal, gestual e visual), utilizando dispositivos de análise específicos da TO. Os resultados evidenciaram inicialmente, a dificuldade das crianças em trabalhar em grupos, marcadas pela ética da obediência, práticas individualistas e egocêntricas; e a transição da professora pesquisadora de uma postura centralizadora para uma abordagem colaborativa. Durante a AEA, as crianças e a professora pesquisadora desenvolveram um trabalho colaborativo em prol de um objetivo comum, e, gradativamente, as crianças foram encontrando saberes histórico-culturais sobre o processo de filtração da água, estabelecendo reflexões e conexões com seu contexto sociocultural. A partir desse encontro, as crianças tomaram consciência desses saberes transformando suas concepções, especialmente ao associar a vela do filtro de barro à filtração da água e ao reconhecer a necessidade de tratamento contra microrganismos invisíveis, e suas ações na dinâmica de sala de aula. Os resultados apontam para a viabilidade da TO como alternativa para promover o desenvolvimento de saberes científicos e de subjetividades éticas e críticas na Educação Infantil por meio de um processo de ensino-aprendizagem que supera a dicotomia professor(a)/aluno(a) e as concepções individualistas da aprendizagem, promovendo valores como solidariedade, responsabilidade e cuidado com os outros.