Habilidades culinárias e variáveis associadas em estudantes universitários durante a pandemia de covid-19
Comportamento Alimentar; Consumo Alimentar; Culinária; Habilidades culinárias; Universidades
O processo de isolamento social durante a pandemia de COVID-19, que determinou uma maior permanência em casa, levou a mudanças sociais importantes para os indivíduos e alterações no estilo de vida e no comportamento alimentar da população, requerendo um uso maior de habilidades e técnicas culinárias para o preparo das refeições no dia a dia. O presente estudo objetivou avaliar as habilidades culinárias da comunidade acadêmica de uma universidade durante a pandemia. Participaram do estudo 972 alunos, sendo 808 estudantes de graduação e 164 de pós-graduação. Foram coletadas informações sociodemográficas e do preparo de refeições dos participantes em formulário online. O Questionário Brasileiro de Avaliação das Habilidades Culinárias e Alimentação Saudável foi aplicado, sendo 36 questões distribuídas em 7 escalas: (1) Disponibilidade e acessibilidade de frutas, legumes, verduras e temperos; (2) Atitude Culinária; (3) Comportamento Culinário; (4) Autoeficácia Culinária; (5) Autoeficácia no Consumo de Frutas, Verduras e Legumes; (6) Uso de Técnicas Culinárias Básicas; (7) Autoeficácia no Uso de Frutas, Verduras e Legumes e Temperos; (8) Avaliação do Conhecimento Culinário. O nível de habilidades culinárias foi obtido a partir da somatória das escalas 2 a 7. Foi estabelecida uma escala de pontuação para os equipamentos e utensílios disponíveis em residência, cujo somatório final atingiu até 38 pontos, dessa maneira, aqueles que possuíam tal equipamento e/ou utensílio receberam 1 ponto, enquanto aqueles que não possuíam ou o desconheciam não pontuaram. As variáveis associadas com as habilidades culinárias em cada grupo foram estudadas por meio de regressões logísticas. A idade mediana foi de 25,0 anos. A maioria dos entrevistados eram mulheres (72,6%), não tinha filhos (87,6%) e 57,8% relataram residir com os pais e/ou avós. A alta habilidade culinária foi predominante na população estudada, sendo 65,8% em estudantes de graduação e 57,3% em pós-graduação. Observou-se que o perfil dos estudantes que possuem alta habilidade culinária eram de mulheres que autoreferiram saber cozinhar e ter a ajuda de mais uma pessoa para preparar as refeições em casa, realizavam a principal refeição em casa e tiveram maior preparo das refeições no ambiente familiar durante a pandemia. O tempo mediano disponível para cozinhar foi de 120 minutos. A pontuação mediana, em ambos os grupos, para as escalas de “Disponibilidade e acessibilidade de frutas, legumes e verduras” foi de 6,0 pontos demonstrando média disponibilidade de Frutas, Legumes e Verduras; “Atitude Culinária” intermediária (15,0 pontos) e altas “Habilidades culinárias” 78,0 (p valor < 0,05). As variáveis utilizadas na análise multivariada não se apresentam como preditoras de uma menor habilidade culinária para os estudantes de graduação. Todavia, para os estudantes de pós-graduação que autorreferiram não saber cozinhar, as regressões logísticas apresentaram uma AOR = 7,12 (2,51 – 20,13) indicando uma razão de chances maior para apresentarem baixa/média habilidade culinária. Os estudantes de pós-graduação com alta habilidade culinária possuíam maior mediana de tempo disponível para cozinhar de 120, (90,0 – 180,0) e de pontuação de utensílios 31,0 (28,0 – 34,3) quando comparados àqueles que possuíam baixa e média habilidade culinária (p < 0,05). Deste modo, o estudo demonstrou que as habilidades culinárias podem estar relacionadas à fatores pessoais e comportamentais que englobam a confiança, o interesse e conhecimento, bem como aspectos de disponibilidade de tempo, de alimento, utensílios e equipamentos, sugerindo-se que tais habilidades emergem como uma ponte para práticas alimentares mais saudáveis.