Impacto da pandemia da COVID-19 na adesão às recomendações do guia alimentar para a população brasileira e qualidade de vida de pessoas adultas e idosas
Comportamento alimentar. Guias alimentares. COVID-19. Qualidade de vida.
Em março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou a pandemia da Coronavirus Disease (COVID-19) e em 05 de maio de 2023 declarou o fim da emergência de saúde pública referente à doença. No período da pandemia, o Brasil adotou medidas de distanciamento social para reduzir a disseminação do novo vírus. Este contexto desencadeou alterações nas práticas alimentares da população, positivas e negativas. No Brasil, o Guia Alimentar para a População Brasileira é o documento que norteia práticas alimentares, as quais, podem influenciar na percepção da qualidade de vida (QV) de cada pessoa. Este trabalho contempla dois estudos: transversal e uma coorte, e visa identificar a adesão ao Guia alimentar e a sua associação com a qualidade de vida de pessoas adultas e idosas, antes e após a pandemia da COVID-19. Em ambos os estudos, os dados foram coletados por meio de um questionário da plataforma Epicollect5, no período de 2019-2020 no estudo transversal e 2023-2024 na coorte, contendo variáveis sociodemográficas, socioeconômicas, de estado nutricional antropométrico, práticas alimentares, QV, e autorrelato de COVID-19 na coorte. Para a análise da adesão ao Guia alimentar, foi utilizada uma escala multidimensional, resultando nas classificações “baixa”, “baixa/média”, “média” e “alta”. A QV foi analisada pela escala WHOQOL-BREF. Para as variáveis quantitativas realizou-se análises descritivas e para as categóricas, teste Qui-quadrado de Pearson ou McNemar. No estudo transversal foi realizada a regressão de Poisson para verificar associações entre as varáveis independentes e a baixa QV. Na coorte, realizou-se regressão logística para verificar associação de variáveis independes e piora da QV. No estudo transversal observou-se que residir nas zonas norte e leste de Natal-RN, e ter nascido do sexo feminino, aumentou significativamente a probabilidade de baixa QV. Aqueles com baixa (RP = 2,51; IC95% 1,59-3,96) e média (RP = 1,58; IC95% 1,07-2,35) adesão ao Guia alimentar também apresentaram mais probabilidade de baixa QV. Na coorte, não houve diferença significativa (p>0,05) na QV e na frequência das categorias de adesão ao Guia alimentar entre pré e pós-pandemia, mas, houve diferença significativa (aumento na frequência de concordância e redução de discordância) na adoção de práticas alimentares não desejáveis (predominantemente aquelas que envolvem consumo de alimentos ultraprocessados) entre os dois momentos do estudo. Após a pandemia, pessoas com renda per capita no 1º tercil e 2º tercil, apresentaram uma chance de apenas 0,02 de ter piora da QV geral (OR ajustado = 0,02; p = 0,003) e (OR ajustado = 0,02; p = 0,004), respectivamente. No estudo transversal, concluiu-se que pessoas adultas e idosas com baixa adesão ao Guia alimentar apresentam maior prevalência de baixa QV, e na coorte, a população passou a adotar hábitos alimentares que podem levar à agravos à saúde, além da renda per capita ter apresentado associação significativa quanto à redução da probabilidade de piora da QV após a pandemia. Os achados indicam a necessidade de políticas públicas no âmbito da nutrição, que por sua vez refletem em outros aspectos individuais e sociais.