Associação do consumo de ultraprocessados com o perfil antioxidante do leite materno e da dieta: um estudo transversal
Consumo alimentar. Classificação Nova. Enzimas antioxidantes. Atividade antioxidante. Lactação. Aleitamento materno.
Os alimentos ultraprocessados (AUP) tendem a apresentar uma elevada capacidade oxidativa, contribuindo com o desencadeamento de processos inflamatórios e o surgimento de doenças relacionadas. No entanto, ainda não se sabe o impacto do consumo de AUP no perfil antioxidante de mulheres durante a lactação. Sabendo-se que o aleitamento materno é essencial para o desenvolvimento saudável da criança, fornecendo fatores de crescimento, nutricionais e uma poderosa capacidade antioxidante via leite materno, o presente estudo objetivou investigar a relação entre o consumo de AUP e o perfil antioxidante do leite materno e da dieta de 136 mulheres lactantes atendidas na atenção primária à saúde do município de Natal-RN, com mediana de 66 dias pós-parto. O estudo teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da UFRN (CAAE 29928420.7.0000.5292). Foram coletadas informações de identificação socioeconômicas e de saúde, medidas antropométricas, recordatórios de 24 horas (R24h) adaptado para Classificação Nova e alíquotas do leite materno por ordenha de única mama. Para a determinação dos marcadores antioxidantes do leite materno foram analisadas as enzimas antioxidantes Superóxido dismutase (SOD) e Catalase via kits comerciais por leitura em placa, como também a quantificação do alfa-tocoferol por Cromatografia Líquida de Ultra Eficiência. Também foi avaliada a estimativa teórica de fornecimento de vitamina E via leite analisado (4 mg de vitamina E em 780 mL de dia). O consumo alimentar foi avaliado segundo participação calórica de AUP na dieta (%EAUP) e o perfil antioxidante da dieta segundo a ingestão dietética de vitamina E (mg/dia e mg/1000 kcal) e a capacidade antioxidante total da dieta (mmol/dia). As mulheres lactantes foram agrupadas em tercis de %EAUP. A associação entre o consumo de AUP (kcal) e os marcadores do perfil antioxidante no leite e na dieta foram analisadas por modelos de regressão linear múltipla ajustados. Os AUP contribuíram com quase 1/4 (24,3%) das calorias da dieta e foi observado que as mulheres do maior tercil de %EAUP apresentaram maior ingestão de proteínas, carboidratos, lipídios e fibras com diferença significativa e capacidade antioxidante total da dieta (p<0,05). No leite materno, a concentração de alfa-tocoferol apresentou mediana de 151,4 (Q1-Q3 101,0-258,0) μg/dL e 77,8% dos leites analisados não atingiram teoricamente 4 mg/dia de vitamina E. A enzima SOD obteve uma média de 0,2 (0,1) U mg-1 e a Catalase uma mediana de 60,1 (Q1-Q3 10,6-60,1) U mg-1. Com a análise de regressão linear ajustada, foi identificada uma relação positiva entre o consumo de AUP (kcal) e a concentração de SOD (β = 0,00 IC95% -0,00-0,00 p<0,007), como também com a CATd (β = 0,01 IC95% 0,00-0,02 p<0,001). Na população estudada, um maior consumo de AUP afetou um marcador antioxidante no leite materno, sendo importante evitar o seu consumo durante a lactação para não induzir um status pró-oxidante do leite humano. A relação entre os AUP e a capacidade antioxidante da dieta sugere que o instrumento CATd precisa considerar o processamento dos alimentos para esse fim.