IMPACTO DO CONSUMO DE ALIMENTOS ULTRAPROCESSADOS NA INGESTÃO DIETÉTICA E PERFIL DE VITAMINA E NO LEITE E SORO DE MULHERES LACTANTES
Processamento de alimentos, consumo alimentar, leite materno, alfa-tocoferol, lactação, aleitamento materno.
O consumo de alimentos ultraprocessados pode levar ao aparecimento de doenças crônicas não transmissíveis, inadequação na ingestão de micronutrientes, entre outros agravos à saúde. Portanto, é importante avaliar esse consumo durante a lactação e seu impacto na composição do leite e estado nutricional materno, pois a alimentação materna deve garantir uma adequada composição nutricional do leite, evitando o estabelecimento de deficiências, como a deficiência de vitamina E (DVE). Assim, este estudo teve como objetivo avaliar o consumo de alimentos ultraprocessados e sua relação com a ingestão dietética e concentração de vitamina E do leite e soro de mulheres lactantes. O estudo foi de corte transversal com 294 mulheres lactantes atendidas em hospitais universitários do Rio Grande do Norte, com no mínimo 30 dias pós-parto. A coleta de sangue e leite materno foi realizada em jejum e a concentração de vitamina E (alfa-tocoferol) das amostras foi analisada por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (HPLC). O perfil de vitamina E do leite materno foi avaliado considerando a quantidade da vitamina em volume estimado de consumo diário (780 mL/dia) e comparado a recomendação para lactentes (4 mg/dia). O consumo alimentar das mulheres foi obtido por três Recordatórios de 24 horas e os alimentos foram classificados segundo a NOVA em in natura ou minimamente processados, ingredientes culinários processados, processados e ultraprocessados. Também foi analisado a ingestão dietética de energia, gordura total, saturada, monoinsaturada, polinsaturada e vitamina E. As participantes foram divididas em tercis conforme a contribuição energética de alimentos ultraprocessados. O teste de Kruskal-Wallis foi utilizado para comparar os grupos divididos pelos tercis e foi realizado teste de regressão linear múltipla, sem e com ajuste para renda familiar, para avaliar a relação do consumo de alimentos ultraprocessados com os biomarcadores da vitamina. O consumo dos alimentos in natura ou minimamente processados contribuíram com 51% da ingestão energética e os alimentos ultraprocessados com 16%. Os alimentos in natura ou minimamente processados foram os que mais contribuíram com o consumo de vitamina E (44%). O alfa-tocoferol no soro materno foi 1144 (344) μg/dL, com 5% (n=11) de DVE (<517 μg/dL), e no leite materno foi encontrado valores médios de 362 (170) μg/dL, sendo 78% abaixo da estimativa de valor diário recomendado a lactentes. Observou-se maior ingestão calórica nas mulheres de maior tercil de consumo de ultraprocessados (p<0,05) e o aumento da participação dos alimentos ultraprocessados na dieta foi associado a menores concentrações de alfa-tocoferol no soro (β=-0,166, p=0,005), ao perfil inadequado de vitamina E do leite materno (β=-0,137, p=0,021) e ao menor consumo da vitamina proveniente dos demais grupos da NOVA. Os principais achados deste estudo revelaram impacto negativo do consumo de alimentos ultraprocessados no perfil de biomarcadores de vitamina E em mulheres lactantes, alertando para a possível redução dos níveis circulantes da vitamina e do seu fornecimento aos lactentes. Assim, reforça-se as atuais diretrizes alimentares para a população lactante, no tocante a se evitar o consumo desses alimentos, garantindo a promoção de uma alimentação adequada e saudável e prevenção da DVE nesse período da vida.