A construção com verbos de percepção: uma análise baseada no uso
Linguística Funcional Centrada no Uso; construção de estrutura argumental; verbos de percepção.
Focalizamos, nesta tese, a construção de estrutura argumental transitiva com os verbos de percepção, como ver, ouvir, experimentar, sentir, perceber, entre outros, a fim de investigar as propriedades semântico-sintáticas e discursivo-pragmáticas desses verbos em situações reais de uso do português brasileiro. Defendemos que os padrões de estrutura argumental que codificam eventos de percepção são subesquemas da construção transitiva prototípica. Para tanto, o estudo é fundamentado nos pressupostos teórico-metodológicos da Linguística Funcional Centrada no Uso (Furtado da Cunha; Bispo; Silva, 2013; Rosário; Oliveira, 2016), de viés construcionista (Goldberg, 1995; Bybee, 2016; Traugott; Trousdale, 2021). A pesquisa é de natureza descritiva e interpretativa, sendo realizada por meio de procedimentos bibliográficos e ancorada no método dedutivo e indutivo. Metodologicamente, a análise equaciona o tratamento qualitativo e quantitativo dos dados selecionados (Cunha Lacerda, 2016). O material empírico constitui-se de amostras extraídas de blogs disponíveis na internet, do ano de 2014, perfazendo um total de trezentas mil palavras. Com relação ao argumento sujeito dos verbos de percepção, os resultados apontam que esse elemento não é lexicalizado na maioria dos dados; quanto às propriedades semânticas, a frequência maior é de sujeito agente. No que diz respeito ao argumento objeto direto, este também apresenta diferentes configurações morfossintáticas, assumindo a forma de sintagma nominal, de oração ou não sendo lexicalmente realizado. Nessa linha, a construção transitiva com os verbos de percepção pode ser representada como [SN V SN] [SUJEITOAGENTE – VERBO DE PERCEPÇÃO – OBJETO DIRETOTEMA] ou [SUJEITOEXPERIENCIADOR – VERBO DE PERCEPÇÃO – OBJETO DIRETOFENÔMENO] em menor número. Por fim, aspectos discursivo-pragmáticos, tais como topicidade e status informacional dos argumentos, e cognitivos, a exemplo de categorização e prototipicidade, motivam a escolha do padrão de estrutura argumental em que esses verbos são utilizados.