MODELO PROBABILÍSTICO NA INTERPRETAÇÃO DE PRONOMES POSSESSIVOS EM CONTEXTO DE TRANSFERÊNCIA DE POSSE
anáfora; pronome; transferência de posse; modelos probabilísticos
O processamento de linguagem busca entender como os sujeitos de uma determinada
língua compreendem a linguagem, ou seja, o processo pelo qual os falantes interpretam sua
língua. No campo da psicolinguística, o processamento é bastante utilizado para estudar a
anáfora, que é uma forma de fazer referência a um termo mencionado anteriormente. O
pronome, por sua vez, é uma das maneiras mais comuns de realizar a anáfora, tendo em vista
que ele tende a recuperar a entidade mais saliente do discurso. Em uma sentença como “José
transferiu/estava transferindo para Luciana o dinheiro dela/dele bem rápido hoje cedo.”,
observa-se que o pronome possessivo (dele/dela) faz referência a uma das entidades
anteriormente mencionadas (o sujeito “José” ou o objeto “Luciana”). Este estudo empregou
dois experimentos para explorar a interpretação de pronomes possessivos pelos falantes. O
experimento I se valeu da leitura autocadenciada, verificando, por meio do tempo de leitura,
se os sujeitos têm mais dificuldade de retomar o sujeito ou o objeto da sentença, dependendo
do aspecto verbal (perfectivo e imperfectivo), e se homens e mulheres se valem dos mesmos
artifícios para interpretar pronomes possessivos. Já o experimento II utilizou-se das mesmas
sentenças que o experimento I, porém a partir de um paradigma de complementação de
sentenças. De acordo com experimentos anteriores (Rohde, 2008 e Godoy e Mafra, 2018), no
caso de verbos no perfectivo, o processamento de anáforas cujo antecedente é o objeto será
menos custoso que quando o antecedente é o sujeito, já no imperfectivo, ocorre o contrário. O
propósito inicial deste estudo é analisar a interpretação de pronomes possessivos,
comparando-a com a de outros pronomes e expressões referenciais, inclusive em línguas
distintas do Português Brasileiro. O segundo objetivo é verificar se o Teorema Kehler e
Rohde (Rohde e Kehler, 2013), um modelo probabilístico, é capaz de prever como se dará a
anáfora. Nossos resultados, no entanto, não demonstraram influência do aspecto verbal para
retomar determinados referentes, nem no Experimento I, nem no Experimento II. Porém, no
experimento I, encontramos que sentenças no perfectivo tendem a ser processadas mais
facilmente que sentenças no imperfectivo, independente de quem seja o antecedente, e que
participantes do sexo feminino, quando seus dados foram analisados isoladamente,
corroboraram parcialmente com a nossa hipótese.