A Palo seco: neobarroco e musicalidade nas obras de Joao Cabral de Melo Neto e Belchior
João Cabral de Melo Neto; Belchior; poesia; canção; musicalidade.
Tanto a poesia quanto a canção dispõe um universo sonoro, campo das percepções, das representações, dos afetos, das críticas, das tradições e das rupturas. A mirada sonora aporta na palavra como componente mínimo sonoro, palavra que está presente na poesia e canção. Assim, como sugerido pelo título, a tese busca investigar a musicalidade na obra do poeta João Cabral de Melo Neto e do cancionista Antônio Carlos Belchior, ambos brasileiros nascidos na região nordeste do país. João Cabral de Melo Neto, poeta pernambucano, possui uma relação muito específica com a música propriamente dita e com as consequências musicais do poema. Tema caro ao poeta, a música e a musicalidade não passa desapercebida em sua obra e em nosso enfoque ganha lugar de destaque. Antônio Carlos Belchior, por sua vez, elabora seu sistema compositivo a partir do conteúdo poético de suas letras, tensionando a simbiose cancional (letra e melodia). A investigação é do tipo qualitativa, revisitando o arcabouço teórico e bibliográfico, ao mesmo tempo, em que realiza a análise dos poemas e das canções, análise esta que, parte do nascedouro desses complexos rios poéticos-musicais e investiga tanto o complexo tradicional do metro do verso, da rima, das estrofes, como os complexos dialogais que tem cada obra, a poesia e a canção, com estruturas sociais, estéticas e culturais. Na elaboração da discussão foram erguidos alguns pilares teóricos, como a percepção da literatura e da música como um conhecimento transdisciplinar e interdependente; a Literatura Comparada como um conjunto de ferramentas que auxiliam na lida com um objeto híbrido, entre a literatura e a música; e o Barroco e o Neobarroco como estruturas para a compreensão das artes de João Cabral e Belchior. A pesquisa aponta para uma mudança na interpretação da antimusicalidade cabralina sugerindo um caminho da tonalidade para a atonalidade a partir de uma análise reflexiva, crítica e teórica que divide sua obra em dois rios, em duas dicções, uma tonal e outra atonal. A musicalidade de Belchior percorre caminhos críticos semelhantes. Com uma proposta de arte racional, o cancioneiro Belchior (robô goliardo) conduz sua musicalidade por um diálogo crítico entre a tradição e a ruptura artística (musical e poética). Para abordar a musicalidade de Belchior se percorreu os caminhos do seu trabalho racional em diálogo com o neobarroco para entender os corpos “terrestres” que orbitam em seu universo cancional, são pintores, poetas e compositores que figuram em constante diálogo.