Do confronto à CriAÇÃO: aprende-se a argumentar jogando
Argumentação. Argumentação pelo confronto. Ensino de argumentação como prática social. Jogo educativo.
O exercício do raciocínio crítico implica o engajamento de cidadãos em questões que permeiam a sociedade, a política e a economia, especialmente se forem questões polêmicas. Esse processo envolve o desenvolvimento de uma consciência (auto)reflexiva, que requer distintas ações, tais como: interrogar (a si e ao outro), ouvir atentamente posicionamentos diferentes para, em seguida, confrontá-los, discutindo paradigmas e colaborando com a CriAÇÃO de novos. Nesse processo de contínua construção de si, do outro e do mundo em sociedade, os jogos têm um lugar de destaque, haja vista favorecerem a construção de estratégias, a tomada de decisões, a condução de negociações, a atribuição de recompensas, que podem ativar diferentes habilidades importantes não apenas para a mecânica do jogo, mas sobretudo para a dinâmica da vida em sociedade. Associar essas habilidades aos princípios dos jogos educativos implica defender que o pensamento crítico, necessário para a resolução de problemas do cotidiano, pode ser estimulado a partir de questões polêmicas que simulam desafios reais. Dentro desse contexto, esta tese tem como objeto de estudo a prática da argumentação mediada pelo jogo de tabuleiro CriAÇÃO. Seu objetivo geral é o de investigar a dinâmica desse jogo na aprendizagem da argumentação e, para alcançá-lo, há quatro objetivos específicos: (i) analisar as interações discursivas e argumentativas em partidas do jogo CriAÇÃO; (ii) identificar as habilidades ativadas durante as partidas desse jogo; (iii) mapear os movimentos argumentativos presentes nessas partidas; (iv) analisar práticas de multiletramentos desenvolvidas em partida(s) do jogo CriAÇÃO. Com o propósito de atingir esses objetivos, assumem-se, como referencial teórico, a concepção de língua(gem) do Círculo Bakhtiniano, os estudos de letramento de vertente sociocultural, os estudos de argumentação interacional e a proposta de ensino de argumentação como prática social. Metodologicamente, insere-se na abordagem qualitativa, de natureza interpretativista, respaldada pelos moldes da pesquisa-ação de vertente etnográfica e inserida na Linguística Aplicada. Os colaboradores desta pesquisa são estudantes matriculados nos cursos de nível médio, de modalidade Educação de Jovens e Adultos e de nível superior de uma escola da rede federal de ensino do Rio Grande do Norte. Para a geração de dados, utilizaram-se os seguintes instrumentos: notas de campo; fotografias e gravações; questionários. A partir da geração de dados emergiram três categorias de análise: interações discursivas e argumentativas no jogo CriAÇÃO, movimentos argumentativos recorrentes, caracterização das práticas de multiletramentos. A análise dos dados sinaliza que cada partida do jogo CriAÇÃO se constitui como um evento de letramento propício à aprendizagem da argumentação, pois favorece: (i) a efetivação das interações discursivas e argumentativas; (ii) a ativação de habilidades, especialmente as de argumentar e contra-argumentar; (iii) o uso dos movimentos argumentativos; (iv) a mobilização de elementos visíveis e não visíveis do evento em favor da construção da argumentação; (v) o rompimento com a abordagem tradicional de ensino da argumentação. Dada a importância de os estudantes se envolverem nessas práticas, os dados obtidos nos permitem afirmar que o jogo CriAÇÃO se configura como uma ferramenta pedagógica em que se aprende a argumentar jogando.