EM MEIO A UM MAR DE VOZES SOCIAIS: o papel das bibliotecas e da experiencia dialogica da leitura na formacao das identidades de jovens universitarios
biblioteca; vozes sociais; prática dialógica de leitura; Círculo de Bakhtin; identidades sociodiscursivas; Linguística Aplicada.
Esta pesquisa propõe, como objetivo geral, compreender, a partir da vontade enunciativa de estudantes de uma instituição pública de ensino superior, como é concebida a participação da leitura e das bibliotecas em suas trajetórias vitais, e como estas podem impactar no processo sócio-histórico de construção e reconstrução de si, de suas posições de sujeito, de suas identidades sociodiscursivas. Para tanto, assentamo-nos na ideia de que a leitura constitui uma experiência responsivo-dialógica; e a biblioteca, um espaço-tempo heterodiscursivo por excelência. Assim, buscamos fundamento teórico-metodológico nas reflexões do Círculo de Bakhtin, especialmente nas concepções de enunciado concreto, signo ideológico, relações dialógicas, vozes sociais, alteridade e ato ético. Trata-se, pois, de uma investigação de natureza qualitativa-interpretativista, guiada pelo paradigma indiciário (GUINZBURG, 1989), na qual se recorreu aos gêneros discursivos entrevistas e questionários socioeconômicos para elaborar o corpus de análise. Além disso, o trabalho encontra lugar no campo da Linguística Aplicada, sobretudo no que concerne à sua dimensão ética e politicamente engajada com as pessoas que vivenciam as práticas sociais (MOITA LOPES, 2006; RAJAGOPALAN, 2006) envolvidas em nosso objeto de estudo, ao seu compromisso com a discussão de problemas relacionados à “privação sofrida” pelos sujeitos (ROJO, 2006), uma vez que aqui se assume a responsabilidade de trazer para o plano do visível e do inteligível os sentidos oriundos das “vozes do Sul” (MOITA LOPES, 2006), ou seja, dos enunciados de leitores comuns – de gente simples que, historicamente, por ser mulher, por ser pobre, por ser pessoa LGBTQIAPN+, teve sua palavra silenciada, ignorada, desprezada. Fizemos, então, uma análise detalhada dos percursos biográficos que conduziram os sujeitos ao encontro com o mundo da cultura escrita e das bibliotecas, destacando não só as valorações que atribuem a essas práticas e a esses espaços, como também os posicionamentos e as vozes que emanam de seus enunciados. Os resultados apontam para a formação de identidades marcadas por uma heterogeneidade de discursos, evidenciando que o tornar-se não acontece senão pela soma de nossos atos participativos, responsivos e responsáveis, em diversas esferas ideológicas. Além disso, nos leva a compreender a leitura e as bibliotecas como lugares propícios para a descoberta e a experimentação de valores, de sentimentos, de ideias, de convicções, enfim, de posicionamentos ideológico-identitários.