VIOLENCIA SEXUAL NO UNIVERSO FEMININO DE LA GUERRA DEL FIN DEL MUNDO, DE MARIO VARGAS LLOSA
Mario Vargas Llosa; Literatura Latino-Americana; Mal; Dominação Masculina; Violência Sexual.
O autor Mario Vargas Llosa forma parte de um seleto grupo de escritores que ficou conhecido pelo boom da literatura latino-americana, um movimento literário que ocorreu entre as décadas de 1960 e 1970, que fez com que autores como ele ganhassem destaque mundial, impulsionados pela experimentação estilística e pelo interesse em retratar as complexas realidades sociais e políticas da América Latina. Seu livro La Guerra del Fin del Mundo, publicado em 1981, é considerado uma das mais importantes obras do escritor, obra em que Vargas Llosa estabelece um diálogo entre literatura e história, a partir da leitura do livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, cujo tema principal é a Guerra de Canudos (1896-1897). Com a preocupação em retratar os problemas sociais das sociedades latino-americanas, percebe-se que o autor também se interessou por retratar a situação da mulher e as múltiplas violências que sofre durante toda a narrativa ao habitar um universo marcado pela dominação masculina. Nesse viés, a presente pesquisa, de caráter qualitativo e bibliográfico, tem como proposta analisar a construção das personagens femininas em relação às violências sofridas por elas em La Guerra del Fin del Mundo, de Mario Vargas Llosa, na tentativa de confirmar se a violação sexual contra o feminino se configura um padrão de construção das personagens femininas no romance. Para isso, analisar-se-á a voz que conduz todo o enredo e é responsável pela apresentação das personagens mulheres, na obra: o narrador. Busca-se analisar as escolhas que ele faz, quanto ao léxico, para descrever as cenas de violência sexual, estabelecer a interação entre os personagens e a descrição deles. Nesse sentido, também será feita uma comparação com outras obras do autor, observando se o estilo de cada uma influi na representação da violência sexual contra a mulher e, portanto, na construção das dinâmicas de submissão e de resistência. Nas obras folhetinescas, em que predominam o humor, percebe-se que a violência sexual contra as personagens femininas é retratada de maneira naturalizada, até sendo envolta em certo erotismo. Nas obras de teor histórico, com conteúdo mais documental, o autor manifesta nessas narrativas um rastro de denúncia social. Com essa análise, chega-se à noção de que o autor tenta imprimir em sua obra o sentido da presença de um mal (Bataille, 2022; Eagleton, 2022) que tem origem e ramificação na sociedade. Também se identifica o desdobramento desse mal na forma de dominação e violência sexual contra as personagens femininas (Chauí, 2017; Franco, 1984; Perrot, 2005). Sendo assim, busca-se trazer esse retrato da situação feminina na obra de Mario Vargas Llosa, considerando se há a criação de estereótipos e se o papel dessas personagens reflete ou critica a sociedade.