Anfípodes Troglóbios da Caatinga: Taxonomia, Diversificação e Conservação
Anfípodes, Estigobiontes, Cavernas, Mesogammaridae, Seborgiidae.
Potiberaba porakuara é um anfípode relicto oceânico originalmente descrito na caverna Três Lagos, na Formação Jandaíra, um hotspot subterrâneo no semiárido brasileiro. Contudo, um estudo filogeográfico comparativo de artrópodes dessa formação revelou cinco linhagens genéticas distribuídas em 12 cavernas, sugerindo um complexo de espécies. A partir da ampliação da área amostrada e do uso integrado de dados genéticos e morfológicos, delimitamos e descrevemos quatro novas espécies: Potiberaba sp. nov. 1, Potiberaba sp. nov. 2, Potiberaba sp. nov. 3 e Potiberaba sp. nov. 4, diferenciadas entre si e da espécie-tipo, P. porakuara, principalmente pelo número de artículos nas Antenas I e II. Além disso, enquanto as quatro novas espécies apresentam distribuição restrita a uma única caverna, P. porakuara ocorre em nove cavernas da Formação Jandaíra. A delimitação e descrição dessas novas espécies, juntamente com a expansão da ocorrência de P. porakuara, fornecem subsídios importantes para planos de conservação, especialmente diante das ameaças crescentes de atividades antrópicas como mineração e desmatamento. Paralelamente, a Formação Jandaíra um extenso sistema calcário do Cretáceo, com mais de 1.400 cavernas registradas tem se destacado como um centro de diversificação subterrânea, particularmente para crustáceos. Entre eles, os anfípodes exibem notável capacidade de colonizar habitats hipógeos, revelando uma biodiversidade subterrânea ainda subestimada. O anfípode Seborgia potiguar, descrito em 2013 como o primeiro representante neotropical de um gênero antes restrito à América do Norte e Europa, já apontava para uma história biogeográfica relicta, associada a incursões marinhas do Mioceno. Neste estudo, expandimos a ocorrência de Seborgia na Formação Jandaíra e descrevemos três novas espécies troglóbias provenientes de cavernas isoladas e nascentes cársticas. Essas espécies são diagnosticáveis por caracteres morfológicos discretos nos gnatópodes, urópodes e télson, e apresentam distribuições estritamente alopátricas, consistentes com padrões de vicariância subterrânea. Todas parecem se reproduzir partenogeneticamente e possuem distribuição extremamente localizada, ressaltando o papel do isolamento hidrogeológico, da competição e da fragmentação de habitat na promoção da diversificação. Nossos achados revelam uma radiação até então não reconhecida de Potiberaba e Seborgia nos sistemas cársticos sul-americanos e reforçam a urgência de estratégias de conservação voltadas à proteção dos frágeis e pouco resguardados sistemas aquíferos da Formação Jandaíra.