Mortalidade por câncer do ovário sob o enfoque demográfico
Câncer do ovário; comportamento reprodutivo; demografia; efeito da idade, período e coorte; Modelos logísticos
O câncer do ovário é um câncer altamente associado às mudanças no comportamento reprodutivo das mulheres, constituindo-se como o sétimo câncer mais incidente e a oitava causa de morte por câncer em mulheres. Em nível populacional, os diferenciais na incidência e mortalidade por esta neoplasia, correlacionam-se com a estrutura etária da população, especialmente ao envelhecimento populacional e a redução na taxa de fecundidade. Destaca-se que os fatores reprodutivos (nuliparidade, não utilizar anticoncepcional oral, nunca ter amamentado) são responsáveis por mais de 80% do risco atribuível populacional do câncer do ovário. A evolução temporal da incidência e mortalidade de agravos à saúde são influenciados por três fatores temporais: idade, período e coorte. Assim, a presente dissertação visa avaliar o efeito da idade, período e coorte em estados brasileiros que apresentam diferenças importantes no comportamento reprodutivo das mulheres, Unidades da Federação do Nordeste e Sul do país, para a mortalidade por câncer do ovário, no período de 1980 a 2019, na faixa etária de 30 a 80 anos. Os registros de óbito serão extraídos do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM/DATASUS), e os dados populacionais, obtidos junto ao Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE). Com a finalidade de obter taxas de mortalidade mais fidedignas, realizou-se a correção da qualidade e da cobertura dos óbitos. Corrigidos os óbitos, foram calculadas taxas de mortalidade brutas, específicas por faixa etária e padronizadas pelo método direto, tendo como população padrão a população mundial proposta por Segi. Os efeitos APC foram calculados para as taxas de mortalidade nos quinquênios de 1980-1984 a 2010-2019, por meio da regressão de Poisson, utilizando-se funções estimáveis propostas por Holford e implementadas por Carstensen. No período em estudo a taxa de mortalidade média por 100 mil mulheres na região Sul foi 7,60 e o Nordeste 5,25. As maiores taxas médias foram observadas nos estados do Rio Grande do Sul (8,09/100.000 mulheres) e Santa Catarina (7,50/100.000 mulheres) e as menores, na Paraíba (3,99/100.000 mulheres) e em Alagoas (4,48/100.000 mulheres). Observou-se diferenças no risco de morte nos anos 2000 entre os estados da região Sul e Nordeste, com aumento nos últimos quinquênios em estados da região Nordeste, e redução nos estados do Sul. Ainda, verificou-se aumento do risco de morte por câncer do ovário nas mulheres de gerações nascidas a partir da década de 1950. As diferenças no efeito de período observadas entre os estados dessas duas regiões, podem estar correlacionados com as desigualdades no acesso aos serviços de saúde desde a Atenção Primária até ao tratamento de alta complexidade em oncologia. E o aumento do risco de mortalidade por câncer do ovário nas gerações mais jovens correlacionam-se às mudanças nos comportamentos reprodutivos e à ocidentalização dos hábitos de vida.