ENVELHECIMENTO E CUIDADO: QUAIS OS EFEITOS DA MUDANÇA POPULACIONAL PARA A PRODUÇÃO E O CONSUMO DO TRABALHO DE CUIDADO NÃO REMUNERADO NO BRASIL?
Trabalho de cuidado; Envelhecimento Populacional; Divisão sexual do trabalho; Uso do Tempo.
O trabalho de cuidado é compreendido como as ações desenvolvidas com o intuito de atender as necessidades básicas relacionadas à vida e à manutenção do domicílio. Desse modo, entende-se que todas as pessoas são consumidoras do trabalho de cuidado, mas a responsabilidade pela produção dessas atividades historicamente recai sobre as mulheres. Por compreender que a tarefa exprime também uma interdependência entre as gerações, espera-se que esta seja impactada pelo processo de transição demográfica, que promove o crescimento populacional e uma transformação da estrutura etária, com a redução da participação proporcional de crianças e o aumento da participação dos idosos. Diante disso, o objetivo deste estudo consiste em mensurar os efeitos de diferentes regimes demográficos na produção e no consumo do trabalho de cuidado não remunerado, para a população total brasileira, em 2015. O estudo faz uso das estimativas feitas por Jesus (no prelo), com base na PNAD (2015), do tempo de produção e de consumo não pago que homens e mulheres dedicaram a afazeres domésticos e a cuidados. Para captar o efeito da mudança populacional, o estudo aplicou a quantidade de pessoas por idade e sexo, bem como as estruturas etárias da população brasileira de 1970 (jovem), 2022 (adulta) e a projetada pelo IBGE para 2060 (idosa) ao contexto de 2015, mediante a utilização da técnica de padronização direta. Esse exercício evidenciou os seguintes efeitos: i) o crescimento e o envelhecimento populacional provocam um consumo superior a produção, ambos concentrados em grupos etários mais velhos; ii) os picos de produção estão relacionados aos padrões etários de maternidade e de casamento, que variam de acordo com a mudança da estrutura etária; iii) a diminuição do consumo das crianças não compensará o aumento do consumo dos idosos do trabalho do cuidado não remunerado; iv) em termos monetários, caso essa prática fosse remunerada e tivesse sua produção incluída no cálculo das contas nacionais, em uma população de mesmo tamanho de 2015, variando apenas a estrutura etária, o PIB de 2015 seria acrescido em 7,6%, no padrão etário jovem e 10,4% nos padrões etários adulto e idoso. Pois, embora o consumo aumente com o envelhecimento, a diminuição proporcional dos adultos impacta a produção, demonstrando a urgência de repensar a estrutura social que mantém essa conjectura, a partir de iniciativas que promovam a equidade e a sustentabilidade do cuidado.