MOSQUITOS VETORES (DIPTERA: CULICIDAE) E SUAS RELAÇÕES COM O MEIO AMBIENTE E A SOCIEDADE NO SEMIÁRIDO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
Culicidae; floresta tropical seca; relações ecológicas; virus específico de insetos, Haemagogus.
Os mosquitos são insetos presentes em todo o planeta. Atualmente são conhecidas cerca de 3.578 espécies. No Brasil, são relatadas cerca de 530 espécies de mosquitos, dentre estas, algumas são consideradas vetores de patógenos causadores de doenças. Estima-se que na Caatinga, bioma exclusivamente brasileiro, ocorrem cerca de 80 espécies. No estado brasileiro do Rio Grande do Norte já foram registradas 76 espécies. Os mosquitos são insetos holometabólicos, ou seja, possuem metamorfose completa, passando pelos estágios de ovo, larva, pupa e adulto. Os imaturos habitam o ambiente aquático, e seus criadouros são diversos, podem ser naturais ou artificiais, temporários ou permanentes. Os adultos apresentam vida livre fora da água e são os responsáveis pela reprodução; se alimentam de carboidratos de origem vegetal, no entanto, somente as fêmeas são adaptadas para também se alimentar de sangue. Essa alimentação sanguínea acaba propiciando a infecção e transmissão de agentes patogênicos. O Rio Grande do Norte vem sofrendo ao longo dos anos com epidemias de Dengue, Zika e Chikungunya, doenças cujo principal vetor é o Aedes aegypti. Os estudos sobre a fauna de mosquitos no estado ainda são escassos, necessitando assim de mais pesquisas para uma melhor compreensão das relações destes insetos na transmissão de patógenos e com o meio ambiente. Neste sentido, o presente trabalho buscou analisar a fauna de culicídeos no município de Currais Novos em área urbana e de mata preservada. No meio urbano, foi realizado o monitoramento mensal da população de Aedes aegypti com a utilização das ovitrampas. As armadilhas foram instaladas semanalmente no intradomicílio, e substituídas a cada sete dias. As armadilhas estiveram distantes cerca de 300m umas das outras. Foram calculados os índices IPO (Índice de Positividade de Ovitrampas), IDO (Índice de Densidade de Ovos), IMO (Índice da Média de Ovos) para cada período estudado. Um total de 92.340 ovos foram coletados durante o estudo, entre maio/2018 março/2020. O índice de positividade de ovitrampas apresentou correlação positiva com as chuvas. A pesquisa viral em insetos adultos oriundos dos ovos, revelou evidências de um possível novo vírus específico de insetos, por métodos de inferência filogenética: Máxima Verossimilhança, Máxima Parcimônia e Neighbor-Joining. Em área de mata, as coletas ocorreram mensalmente por meio de ovitrampas, busca ativa de imaturos em criadouros naturais e armadilha Shannon para insetos adultos, no Cânion dos Apertados. Um total de 15 táxons foram encontrados, sendo 14 de imaturos e 13 de mosquitos adultos. Foi observada a correlação dos insetos com as variáveis climáticas locais. Para os imaturos, foram registrados 14 tipos de criadouros. Foram coletados 2.342 mosquitos adultos entre as 17h-20h. Haemagogus spegazzinii foi a única espécie silvestre encontrada naturalmente infectada pelo vírus DENV-2. Foi observado também que o ciclo da espécie dura entorno de 14 dias, desde a eclosão até a fase adulta. Desse modo, o presente trabalho contribui para o entendimento sobre as implicações humanas frente à epidemiologia das arboviroses no meio urbano e de mata. Neste aspecto, o monitoramento das populações de mosquitos auxilia em políticas para o controle e combate destes insetos e com o conhecimento das relações entre mosquitos existentes no semiárido do Brasil, sobre os nichos, bioecologia, frequência, abundância e sazonalidade dos mosquitos.