UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA SOBRE CHUVAS, QUALIDADE DO AR, GASES DE EFEITO ESTUFA E O USO E OCUPAÇÃO DA TERRA NA CIDADE DE NATAL, RN
Mudanças climáticas. Clima urbano. Transecto móvel. Material particulado. Gases de efeito estufa. MANOVA.
A humanidade enfrenta o desafio das mudanças climáticas, que resultam na ocorrência de eventos meteorológicos mais intensos e frequentes. As cidades, neste contexto, são consideradas “ilhas de calor e poluição”, exigindo o desenvolvimento de estratégias de mitigação e adaptação climática. A motivação para o presente estudo foi a de produzir um diagnóstico multidimensional de riscos associados ao Uso e Cobertura da Terra (LULC), chuvas extremas e qualidade do ar. O objetivo geral foi estudar a provável relação entre o LULC, a distribuição espacial de material particulado, a concentração de Gases de Efeito Estufa (GEE) e a ocorrência de chuvas na cidade de Natal. Para a análise de chuvas foram utilizados 10 anos (2014–2023) de dados horários de precipitação de oito pluviômetros automáticos da rede Cemaden, classificando os eventos em fracos, normais, intensos e extremos. A evolução do LULC foi caracterizada por zona administrativa utilizando dados do MapBiomas (Coleção 9) para o período de 1985 a 2020. A qualidade do ar e os GEE foram medidos em campanhas experimentais realizadas entre novembro de 2024 e março de 2025, por meio da técnica de transecto móvel. A influência dos fatores geográficos e temporais sobre as variáveis de precipitação e termodinâmicas foi avaliada utilizando a Análise Multivariada de Variância (MANOVA). Os resultados indicam que: i) o LULC de Natal passou por intensa expansão urbana entre 1985 e 2020, com a classe “área não vegetada” expandindo-se significativamente (de 27,67% para 64,31% da área total), essa conversão foi mais acentuada nas zonas Norte e Oeste; ii) as chuvas extremas mostraram-se mais intensas e duradouras nas zonas Leste e Norte, sendo sua ocorrência fortemente modulada pela variabilidade interanual e pela distribuição espacial, com menor dependência da sazonalidade isolada; iii) a zona Leste apresentou consistentemente as maiores concentrações médias de material particulado com origem predominantemente antrópica; iv) as zonas Leste e Norte também apresentaram maiores valores de umidade relativa e menor Déficit de Pressão de Vapor (DPV). A tese confirmou a hipótese de que existe uma relação intrínseca entre o LULC, chuvas extremas e qualidade do ar em Natal. As regiões que experimentaram maior atividade antrópica e urbanização intensa (Leste e Norte) são as que apresentam os eventos de chuvas extremas mais intensos e duradouros, juntamente com os piores indicadores de qualidade do ar. Embora preliminares, os resultados indicam que as concentrações de material particulado e GEE nas áreas mais urbanizadas da cidade ocasionalmente ultrapassam os limites de boa qualidade estabelecidos por órgãos governamentais, refutando, parcialmente, a afirmação de que Natal possui o ar mais puro das Américas.