Prognóstico Cirúrgico da Epilepsia Mesial do Lobo Temporal a partir de Marcadores Eletrocorticográficos Intra-operatórios
Epilepsia Mesial do Lobo Temporal, Eletrocorticograma, Prognóstico Cirúrgico.
As epilepsias do lobo temporal são as mais frequentes na idade adulta. A principal integrante deste grupo, a Epilepsia Mesial do Lobo Temporal (EMLT), apresenta altos índices de refratariedade ao tratamento farmacológico. Nesses casos, uma das alternativas terapêuticas é a realização da cirurgia de lobectomia temporal anterior com amígdalo-hipocampectomia, uma intervenção cirúrgica padrão. Entretanto, além dos prejuízos cognitivos decorrentes ao procedimento, uma parte dos pacientes não ficam totalmente livres de crises (aproximadamente 20% no primeiro ano e 50% em 10 anos). Por motivos históricos, um registro eletrocortigráfico (ECoG) é frequentemente realizado durante o procedimento cirúrgico. Os dados obtidos raramente são utilizados clinica ou cirurgicamente. Nesse trabalho, quantificamos eventos paroxísticos nos sinais ECoG intra-operatório de 17 pacientes com EMLT submetidos ao tratamento cirúrgico. Especificamente, a frequência e a distribuição espacial das espículas interictais (EI) e das oscilações em alta frequência (OAF) foram quantificadas nos diferentes momentos cirúrgicos. Esses parâmetros, bem como observações clínicas e exames complementares prévios, foram utilizados para determinar o prognóstico cirúrgico por meio de um classificador. Em conformidade com a literatura, nossos resultados demonstraram que as características clínicas não são bons preditores de ausência de crises nos 2 primeiros anos após a cirurgia. Por outro lado, os marcadores ECoG foram capazes de prever o prognóstico acima da chance. As OAF apresentaram maior poder estatístico quando comparadas com as EI. O parâmetro com melhor poder preditivo foi a área irritativa (em comparação com a frequência de eventos). Assim, utilizando a área irritativa das OAF conseguimos uma sensibilidade de 100% e especificidade de 86% (i.e., apenas um falso-positivo). O presente resultado sugere uma reavaliação da ECoG intra-cirúrgica como importante ferramenta no acompanhamento pós-cirúrgico de pacientes submetidos a lobectomia temporal anterior com amígdalo-hipocampectomia. Caso esses achados sejam confirmados em um maior e mais diverso grupo amostral, eles reforçam a necessidade de uma discussão sobre a padronização cirúrgica realizada na EMLT.