"Quantos mais vão precisar morrer?", uma análise da parresía no discurso de Marielle Franco.
Comunicação. Discurso. Parresía. Marielle Franco
Marielle Franco, vereadora pelo PSOL, era mulher, negra, mãe, da favela. Entre práticas de (re)existências e descolonização, ocupou a sua posição-sujeito e exerceu tecnologias de poder. A partir de um entendimento do discurso em sua materialidade histórica, o objetivo desta pesquisa é compreender a formação de uma subjetividade parresiasta em Marielle Franco no contexto da necrobiopolítica. Essa dissertação está ancorada em teorizações foucaultianas (2010a, 2010b, 2011, 2013a, 2019) que abordam modos de subjetivação a partir de uma estética da existência. Em uma atividade interpretativa e sua pesquisa bibliográfica, e uma análise documental, percorre-se o caminho da parresía socrática, delineado por Michel Foucault (2010b, 2011), em que a fala franca é a última fase de uma constituição ética. Para isso, apresenta-se a parástema e a paraskeué, a partir do governo de si e dos outros, em uma arqueogenealogia e um cenário necrobiopolítico. O corpus descreve o último discurso de Marielle na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, em 8 de março de 2018, a partir de três categorias, através das quais a parresía se fundamenta e se constitui: a modalidade do dizer-a-verdade, a voz que não tem medo da morte, e a constituição de discursos que levantam o véu que cobre o que existe. Marielle incomodou, porque era mulher, negra, lésbica, mas também porque era livre. Seu discurso ainda se faz presente, uma vez que a sua prática discursiva já havia se transformado a partir de uma dizibilidade, sido conservada e memorizada, e perpetuada, em outras vozes, por reativação e apropriação. Ela deixa a subjetividade do corpo para se tornar causa.