INFÂNCIA CONTEMPORÂNEA: CONTEXTOS, PRÁTICAS E SENTIDOS DE CRIANÇAS VISÍVEIS EM REDES SOCIAIS ONLINE
Sociologia da Infância; Mediações e Midiatizações; Redes Sociais na Internet; Visibilidade; Identidade.
Esta tese se propõe a investigar as estruturas, valores e práticas características da infância contemporânea a partir de suas experiências com os sites de redes sociais. Defende-se o pressuposto de uma infância, em sua homogeneidade e heterogeneidade, que vê nas tecnologias de informação e comunicação a oportunidade de construir identidades, relações de poder e literacias midiáticas, produzidos a partir da interlocução entre seu próprio agenciamento e as relações e regras legitimadas e reproduzidas ao longo do espaço e do tempo. Assim, entende-se que a infância passa por um processo de reconfiguração pautado pela sociabilidade em rede e por contextos de visibilidade, amparados por uma lógica de consumo que se perpetua historicamente. Sob uma ontologia construtivista-estruturalista, o quadro teórico-metodológico apresenta como predominantes os estudos da Infância, representados sobretudo pela Nova Sociologia da Infância (PROUT; JAMES, 1997; SARMENTO, 2008, 2013; SARMENTO; PINTO, 1997; CORSARO, 2011); e os estudos das mediações e midiatizações sob os entendimentos da Teoria das Mediações (MARTÍN-BARBERO, 2009) e do bios midiático (SODRÉ, 2013). As análises se fundamentam na aplicação de grupos focais em duas escolas da cidade de Natal, entre crianças de 10 a 12 anos, estudantes do sistema público e privado de ensino. A etapa qualitativa é complementada pela interpretação de dados quantitativos produzidos e disponibilizados pelo Cetic.br a respeito do panorama de consumo de tecnologias de informação e comunicação no Brasil. As conclusões preliminares indicam os seguintes caminhos: (1) entre as crianças, as classes sociais são mais associadas a barreiras digitais no acesso físico e motivacional e as diferenças de gênero são mais visíveis nas formas de uso real/declarado das TIC, mas, no geral, as práticas e os sentidos produzidos estão mais ligados à esfera da cultura lúdica, da cultura audiovisual e do contato com seus pares, indicativo de um possível elemento homogeneizante; e (2) grande parte das habilidades e atividades estão voltadas para a sociabilidade e o entretenimento, mantendo inexplorados recursos educativos disponíveis. Além disso, identifica-se (3) a transformação da cultura lúdica e audiovisual em capitais cultural, social e financeiro (BOURDIEU, 1986), utilizados por crianças que buscam um lugar de notabilidade social, isto é, procuram ser notadas enquanto celebridades na rede, enquanto líderes de grupo entre seus pares, ou ainda enquanto profissionais no campo da mídia; (4) o impulso consumista que permeia as relações em rede, traduzido pela preocupação com a imagem, pela quantidade de seguidores e “likes” e pela posse de um smartphone com marca específica; e (5) a reconfiguração do conceito de meio de comunicação, que, na visão de algumas crianças, parece ser construído e visto a partir das características dos sites de redes sociais: possibilidade de interação, liberação do pólo de emissão e lógica de visibilidade e reciprocidade.