Mídia; cinema; grotesco; estigmas sociais; estética.
A figura do palhaço, as experiências de vida e as ameaças da morte dimensionam a perspectiva circense do universo de Federico Fellini, que festeja a loucura, o obsceno e o disforme. Pedro Almodóvar aboliu as dicotomias certo e errado, bom e mau para convidar o espectador à aberração, à solitude, à marginalidade. Ainda que haja inúmeras diferenças no modo como fazem cinema, é possível aproximar os diretores ao percebermos que ambos criam tramas labirínticas para personagens transgressores valendo-se de uma estética que provoca estranhamento. Entendendo que a sétima arte, dispositivo da cultura midiática, possibilita diferentes estratégias discursivas no que se refere à forma e à representação, esta pesquisa busca analisar os efeitos de sentido que o grotesco produz nas representações de corpos estigmatizados para, em função disso, discutir o modo estético como os cineastas articulam, diante da narrativa, marcas simbólicas e estereótipos. A fim de cumprirmos nossos objetivos, partiremos do método de abordagem sugerido por Vanoye e Goliot-Lété (1994) para analisar os filmes 8 e meio (1963) e Tudo Sobre Minha Mãe (1999) e estabelecer relações dialógicas entre as obras analisadas e as demais produções dos cineastas. O aporte teórico principal de nosso estudo contempla as noções de Goffman (1978) acerca de estigma, os apontamentos de Soares (2009) no que se refere aos estigmas sociais, as categorizações do grotesco sob a luz de Sodré e Paiva (2002) e as teorias de cinema cunhadas por Edgar Morin (2014) e Christian Metz (1980).