Raça, Gênero e Mercado de Trabalho no Brasil Pós-Pandemia: Desigualdades Estruturais e Interseccionais
Desigualdade interseccional; Mercado de trabalho; COVID-19; Decomposição de Fairlie; Gênero e raça.
A pandemia de COVID-19 aprofundou desigualdades históricas no mercado de trabalho brasileiro, afetando de forma desproporcional as mulheres negras. Foram utilizados dados da Pnad Contínua (2019 e 2022) para estimar modelos de regressão logística e aplicar o método de decomposição de Fairlie, evidenciando que as desigualdades de raça e gênero são interdependentes e estruturalmente enraizadas. Mesmo com características demográficas e educacionais semelhantes, as mulheres negras apresentaram maior probabilidade de desemprego e inatividade: em 2022, 48,5% estavam fora da força de trabalho, contra 23,1% dos homens brancos. A renda média das mulheres negras foi 52% inferior, e a presença de filhos pequenos aumentou em 14,3% o risco de desemprego — efeito inverso ao observado entre homens, cujo risco foi reduzido. A escolaridade mostrou-se menos protetiva para mulheres negras em relação às brancas, revelando barreiras raciais persistentes. Embora homens negros enfrentem fatores agravantes significativos, registraram taxas de desemprego menores que as das mulheres negras. Até 96% da diferença nas taxas de desemprego entre mulheres negras e homens brancos não pôde ser explicada por variáveis observáveis, sugerindo forte presença de discriminação estrutural. Além disso, a sobrecarga de trabalho doméstico e de cuidado reforçou o peso do gênero na inatividade feminina.