AVALIAÇÃO DA CONTRAÇÃO DA MUSCULATURA LISA DO TRATO GASTROINTESTINAL E GENITURINÁRIO EM UM MODELO ANIMAL DE DEPRESSÃO
depressão, alterações gastrointestinais ou geniturinárias, contração/relaxamento do fundus do estomago, duodeno e bexiga.
Vários estudos têm demonstrado que a depressão está relacionada a sintomas somáticos, caracterizados, principalmente, por alterações gastrointestinais ou geniturinárias. Os mecanismos exatos associados à interação entre o transtorno depressivo e os sintomas somáticos ainda não são conhecidos. Este estudo tem por objetivo avaliar a atividade motora do trato gastrointestinal (fundus do estômago e duodeno) e geniturinário (bexiga) em camundongos expostos a uma situação de estresse capaz de induzir alterações comportamentais condizentes com estados do tipo depressivo (desamparo aprendido). Para tanto, utilizamos camundongos machos adultos, os quais foram submetidos ao protocolo do desamparo aprendido (sendo classificados em desamparados e resilientes) e ao estresse controlável. Em seguida, os animais foram eutanasiados e o fundus do estômago, duodeno e bexiga foram isolados e montados em um banho de órgão para avaliação das contrações induzidas por KCl 80 mM ou carbacol (agonista muscarínico; 10-7 – 10-3M), ou do relaxamento produzido pelo isoproterenol (agonista dos adrenoceptores β; 10-10 – 10-4M). Uma parte dos animais submetidos ao desamparo aprendido ou estresse controlável foi também usada na análise do esvaziamento gástrico e trânsito intestinal. Verificamos um aumento significativo (~120%) das contrações da bexiga induzidas por KCl em camundongos resilientes. O efeito máximo do carbacol foi aumentado na bexiga dos animais submetidos ao teste do desamparo aprendido em ambos os fenótipos (~95%). Observamos também que o carbacol foi 3,5 vezes mais potente na bexiga de animais resilientes em comparação ao grupo controle. Foi observado uma redução de aproximadamente 30% no efeito relaxante máximo para o isoproterenol na bexiga de animais desamparados e resilientes. O efeito máximo do carbacol no fundus do estômago de animais desamparados e resilientes foi reduzido em aproximadamente 50% e 35%, respectivamente. O efeito máximo do relaxamento produzido pelo isoproterenol no fundus do estômago de animais resilientes foi reduzido em aproximadamente 20%. Por outro lado, não identificamos nenhuma alteração no efeito máximo ou potência do isoproterenol no fundus do estômago de animais desamparados em comparação ao controle. As contrações do duodeno produzidas pelo KCl ou carbacol não foram alteradas nos animais resilientes e desamparados em comparação ao controle. Contudo, foi observado uma redução de aproximadamente 30% no efeito máximo do isoproterenol no duodeno de animais resilientes quando comparado ao controle. De forma geral, o estresse controlável não alterou as contrações ou relaxamento da bexiga, fundus do estômago ou duodeno. Além disso, nenhuma alteração estatisticamente significativa foi observada no tempo de esvaziamento gástrico ou trânsito intestinal nos animais submetidos ao desamparo aprendido ou estresse controlável. Em conclusão, o estresse incontrolável e não o fenótipo depressivo (animais desamparados) ou estresse controlável poderia estar relacionado as alterações na atividade motora do fundus do estômago e da bexiga. Mais estudos são necessários a fim de identificar os mecanismos moleculares pelos quais o estresse pode afetar a atividade motora do músculo liso gastrointestinal ou geniturinário.