Trajetórias, Dinâmicas e Co-Produção de Imaginários Sociotécnicos: O Turismo Inteligente na América Latina
América Latina; destinos turísticos inteligentes; estudos CTS; imaginários sociotécnicos; turismo inteligente.
Desde a última década, a Ibero-América vem se configurando como um cenário de proliferação de estudos, iniciativas e projetos vinculados às cidades e destinos turísticos inteligentes. O objetivo dessa pesquisa é compreender, com base no entendimento do turismo inteligente enquanto fenômeno sociotécnico, como vêm se articulando as trajetórias e dinâmicas implicadas nos processos de co-produção em torno das inter-relações entre turismo e inteligência na região latino-americana, tanto a partir do campo acadêmico quanto de outros atores envolvidos nos arranjos sociotécnicos. Para isso, o conceito dos imaginários sociotécnicos, oferecido pelo campo dos estudos de ciência, tecnologia e sociedade (CTS), funciona, em termos heurísticos, como uma caixa de ferramentas teóricometodológicas para investigar as visões de futuros passíveis de serem alcançados com o suporte de avanços na ciência e na tecnologia, e a emergência das paisagens de modernidade na região. No que diz respeito à metodologia, a pesquisa empírica foi operacionalizada a partir de um estudo interpretativo e integrado de casos múltiplos, com abordagem descritivo-exploratória e comparativa baseada em métodos mistos. Conforme as recomendações metodológicas da literatura para a análise dos processos de coprodução dos imaginários sociotécnicos, a coleta de dados envolveu uma triangulação de materialidades a partir de análise bibliográfica, pesquisa documental e entrevistas semi-estruturadas. Os modos de análise partiram de um raciocínio indutivo/abdutivo e as técnicas de análise envolveram a aplicação da teoria fundamentada construtivista complementada pela análise de discurso, com foco nas práticas discursivo-evocativas. Dentre os resultados do estudo, foi identificado que, a partir das trajetórias do campo acadêmico latino-americano, as relações entre turismo e inteligência vêm apresentando uma tendência em crescimento que introduz mudanças a partir de visões tecnocêntricas para outras mais amplas e sistêmicas vinculadas ao planejamento, a gestão e a governança, além de visões críticas e alternativas. Por sua vez, a partir dos casos de iniciativas e projetos na região analisados, com foco no México, no Uruguai, na Argentina, na Colômbia e no Brasil, as visões se apresentam como estratégias sistêmicas, embora flexíveis e heterogêneas, de renovação, vinculadas à melhoria da eficiência e modernização da gestão do turismo nos territórios, com um papel central do planejamento estratégico baseado em dados e de uma governança integrada, na qual o turismo atua como articulador, além da constituição de redes de cooperação, inclusive, de alcance regional e internacional. Finalmente, são discutidas as oportunidades e desafios que se apresentam a partir dos arranjos sociotécnicos do turismo inteligente na América Latina, para continuar refletindo, além do imaginário sociotécnico hegemônico vinculado ao imperativo global de um progresso tecnoutópico, sobre as consequências e impactos, considerando, também, as contradições e interesses implicados no contexto do capitalismo digital.