Turismo, Festa, Desenvolvimento Local, Política Pública, Matinhas-PB
O turismo, enquanto fenômeno social, que influi no modo de vida de quem visita e é visitado, foi cooptado pelos discursos e ações políticas como meio de desenvolvimento para um povo ou nação. As festas populares, de origens remotas e ainda hoje tão presentes como prática cultural, fazem parte do calendário turístico de muitas cidades do Brasil e do mundo, sendo muitas delas baseadas em alguma atividade agropecuária, ocorrendo, portanto, em sua maioria, no denominado meio rural. A presente pesquisa buscou compreender como as festas populares, a partir de projetos que proclamam a sustentabilidade econômica e sociocultural – utilizando o caso da “Festa da Laranja, Festival Nacional da Tangerina”, na cidade de Matinhas, Paraíba – incorporaram o discurso do turismo. Assim, tem-se como objetivo central analisar as implicações da conexão “festa-turismo” para o desenvolvimento local. Para tal fim, utilizou de métodos qualitativos, instrumentalizados pelas entrevistas em profundidade, observação participante e notas de campo – nos quais o texto-contexto (escrito e oral) do falante é que irá direcionar o entendimento das questões. Como resultado da pesquisa em tela, percebeu-se que, no caso da Festa da Laranja em Matinhas, a conexão Festa-turismo se faz mais presente não na atividade turística em si, mas na presença das políticas públicas, desde a inserção da cidade no “Mapa do Turismo” aos recursos do Ministério do Turismo auferidos pela gestão municipal para a Festa da Laranja e outros eventos festivos. De forma colateral ou transversal, tal conexão movimentou as estruturas socioeconômicas e culturais do município, tornando-o mais conhecido, menos isolado e estimulando a autoestima e o sentimento de pertencimento entre os habitantes, o que também acabou por lançar sementes para que o município entrasse em outros espaços ou instâncias turísticas, como o “Fórum Turístico do Brejo Paraibano”. Por fim, o caso nos faz refletir sobre o que é turismo e o papel das políticas públicas de turismo no Brasil, levando em conta as microrrealidades das chamadas zonas rurais, observando que as festas populares são um locus relevante para pensar o desenvolvimento local, e que o turismo é um fenômeno que está presente, seja no discurso ou ações efetivas, em lugares onde não podem ser vistos a “olho nu”, dado que as pesquisas comumente se voltam para megaeventos, megaprojetos ou “megarrealidades”.