Quem não me conhece, muito prazer: sou Maria, mas Navalha para você.
Malandragem, Malandra, Maria Navalha, Cultura Afro-brasileira; Metodologia de Samborê
A malandra é a própria imagem da mulher que sorri diante da vida com uma malícia. Caminha leve com malemolência, trazendo no corpo a resistência e na alma a irreverência. Samba, como quem provoca o mundo e seu desatino, desafia o masculino. Com passos soltos e olhar certeiro, por entre os becos da cidade e da história, escapa dos tropeços com a ginga que só a malandragem brasileira conhece. No compasso do samba e da vida, ela desafia com graça um sistema patriarcalista que tenta domesticá-la. Chapéu torto, sorriso insinuante — cuidado — pois sob a saia guarda uma navalha: símbolo de poder, proteção e rebeldia. Na cosmovisão afro-brasileira, essa mulher não é somente uma personagem: é Maria Navalha, entidade de força, mistério e malícia sagrada. É sobre ela que esta pesquisa se debruça, numa composição cênica que une dança, teatro e audiovisual, resgatando os sentidos históricos, sociais e espirituais que a envolvem. A partir de escutas, vivências e encontros, nasce uma metodologia com cheiro de rua, som de tambor e memória de encruzilhada: o Samborê. Um jeito de ensinar e aprender que não cabe em moldes rígidos. É movimento, transgressão e axé. Entrar no mundo da malandragem é se perder — e se achar — entre terreiros, sambas, boêmias e giras de saberes. Por isso, o Samborê não é somente um método. É filosofia de corpo, de vida e de cena. Ele convoca memórias, convoca corpos e nos coloca nos entre-lugares onde o ritual encontra a arte, e a malandra — sempre ela — guia os nossos passos. Nas vielas e terreiros, nos sambas e nas esquinas, a ginga se faz menina e o saber malandro. É arte que se mistura ao ritual e cena em festa, com Maria como mestra.