Avaliação funcional e Treinamento físico na Hipertensão Pulmonar:
Evidências de Estudos Observacionais e Revisão Sistemática tipo Overview
Hipertensão Pulmonar; Revisão sistemática; Estudo de validação
Introdução: A hipertensão pulmonar (HP) é uma condição clínica de caráter
progressivo, com sintomas de dispneia aos esforços, intolerância ao
exercício e redução da qualidade de vida. A avaliação funcional nessa
população ainda carece de instrumentos mais acessíveis e aplicáveis à
prática clínica, assim como existem incertezas sobre a superioridade entre
modalidades de treinamento físico nesta população. Objetivo: Estudo 1)
Avaliar as propriedades psicométricas de validade, confiabilidade e
viabilidade do teste sentar e levantar de 1 minuto (1-STST) na HP. Estudo 2)
Avaliar e comparar a resposta microcirculatória a partir da oxigenação
tecidual periférica e a atividade elétrica dos músculos periféricos durante
testes funcionais na HP versus controle. Estudo 3) Sintetizar as evidências
de intervenções em reabilitação física na HP. Metodologia: Estudo 1)
Estudo multicêntrico observacional (Brasil - Espanha), com adultos com HP
tipos I e IV. Avaliamos a função pulmonar, a qualidade de vida, a distância
percorrida no teste da caminhada dos seis minutos (TC6M) e o número de
repetições no 1-STST. Observou-se a validade entre o TC6M e o 1-STST, a
confiabilidade intra e interavaliadores, além da viabilidade do 1-STST para
equipe e população. Estudo 2) Estudo observacional, com indivíduos adultos
com HP tipo I e IV versus controles pareados por sexo e idade. Foram
avaliadas a função pulmonar, qualidade de vida, o TC6M e o 1-STST.
Avaliamos a oxigenação tecidual periférica por NIRS, a partir dos dados de
oxiemoglobina (O₂Hb), desoxiemoglobina (HHb), hemoglobina total (tHb),
diferença de hemoglobina (HbDiff) e índice de saturação tecidual (TSI) e a
atividade elétrica muscular por eletromiografia de superfície (EMG) durante
os testes funcionais. Estudo 3) Overview de revisões sistemáticas (RSs) de
ensaios clínicos randomizados em adultos com HP que realizaram uma
intervenção de reabilitação por exercício físico, seja treinamento físico (TF),
treinamento muscular inspiratório (TMI) ou treinamento combinado (TC).
Foram utilizadas sete bases de dados, com estratégia de busca realizada a
partir do PICOT. Analisamos títulos, resumos e textos completos por dois
avaliadores independentes e em caso de discordância por um terceiro
avaliador. A qualidade metodológica e a certeza das evidências foram
avaliadas utilizando os instrumentos AMSTAR-2 e GRADE, juntamente com
a análise de sobreposição. Resultados: Estudo 1) Foram incluídos 50
indivíduos com HP, em que 42 eram mulheres, com mediana de idade 48
anos [38-68]. Observou-se correlação moderada entre os testes TC6M e 1-
STST (r = 0,53; p < 0,001) e concordância aceitável pelo método de Bland-
Altman (13%). A confiabilidade intra e interavaliador de 21 indivíduos foi
excelente 0,93 (0,84-0,97) e 0,94 (0,85-0,97), respectivamente, com erro
padrão de medição <10% e mudança mínima detectável de cerca de seis
repetições. O 1-STST mostrou-se viável, considerado mais seguro para
equipe e pacientes enquanto induziu menor dessaturação de oxigênio ao
final do protocolo (p = 0,01). Estudo 2) O estudo incluiu 18 pacientes do sexo
feminino diagnosticadas com HP (83,3% tipo I) e 18 participantes no grupo
controle, com média de idade 45,7 ± 15,0 e 45,0 ± 15,3 anos e IMC 25,7 ±
5,0 e 24,8 ± 3,6 kg/m2, respectivamente, sem diferenças estatísticas.
Observamos diferenças estatisticamente significativas entre os grupos em
todas as variáveis de função pulmonar, desempenho nos testes funcionais e
saturação periférica, com p<0,05. Na análise do NIRS, foram identificadas
diferenças significativas intergrupos em O₂Hb e HbDiff, nos dois testes
funcionais entre HP versus controles, com p<0,05. A análise eletromiográfica
ainda está em andamento. Estudo 3) Foram incluídas 14 RSs, divididos em
6 no TF, 2 TMI e 6 no TC. Os três grupos apresentaram melhoria da
capacidade de exercício pelo TC6M >48,5 m (TF), 39,1 m (TMI) e 49,5 m
(TC). O VO₂pico melhorou nos grupos TF e TC em >2,07 e >3,0 mL/kg/min,respectivamente. A avaliação sobre resultados do TMI, foram analisados
apenas no grupo que o trabalhou isoladamente, com pressão inspiratória
máxima (>21,2 cmH₂O) e na pressão expiratória máxima (>14,4 cmH₂O).
Contudo, a maior parte dos estudos foram considerados criticamente com
baixa metodologia e alta sobreposições. Conclusão: Para a população com
HP, especialmente dos grupos I e IV, o 1-STST demonstrou ser válido,
confiável e viável para monitoramento funcional, configurando-se como uma
ferramenta prática e de rápida execução, adequada para o acompanhamento
clínico. Além disso, a resposta microcirculatória do 1-STST foi semelhante à
observada no TC6M, quando comparada a indivíduos saudáveis, reforçando
sua aplicabilidade. Por fim, o treinamento físico combinado parece ser a
intervenção mais eficaz, embora as evidências ainda sejam limitadas devido
ao pequeno número de estudos disponíveis, à sobreposição de dados e às
fragilidades metodológicas identificadas.