Um olhar para os nossos pequenos guerreiros: barreiras e oportunidades no cuidado convencional do prematuro em vulnerabilidade socioeconômica
fisioterapia, prematuridade, desenvolvimento
Os primeiros anos de vida representam um papel crucial no desenvolvimento do indivíduo, sobretudo daqueles que passam a infância em situações de risco para alterações do neurodesenvolvimento. A prematuridade é uma condição de saúde que predispõe ao risco a alterações do neurodesenvolvimento, uma vez que soma os fatores de risco biológicos do bebê aos possíveis fatores de risco socioambientais de suas famílias. As características socioeconômicas impactam o acesso e oferta de serviços de saúde para o cuidado e estimulação do desenvolvimento que esta população necessita. Embora a assistência obstétrica e neonatal seja prioridade na agenda de políticas de saúde nacional, os serviços de intervenção precoce voltados aos prematuros parecem não aproveitar a janela de oportunidade neurológica do início da vida para prevenir e minimizar alterações do neurodesenvolvimento. Países de alta renda estão desenvolvendo intervenções fisioterapêuticas eficazes na estimulação do desenvolvimento do prematuro, desde a internação em terapia intensiva até o ambiente domiciliar. No entanto, ainda não foram testadas intervenções que visem a transição hospital-casa em países de média e baixa renda, como o Brasil. O objetivo deste estudo foi acompanhar o cuidado convencional do prematuro que reside em região de difícil acesso aos serviços de saúde e em condições de vulnerabilidade social, a fim de levantar barreiras e oportunidades para implementação de um serviço de intervenção precoce para a transição hospital-casa. Para alcançar este objetivo cinco estudos foram propostos: (1) Razão entre procedimentos de estimulação precoce e nascimentos pré-termo realizados pelo SUS na região Nordeste do Brasil; (2) Grandes sinais, pequenos retornos: um estudo ecológico sobre o seguimento fisioterapêutico de prematuros na terceira etapa do Método Canguru; (3) Percepção da família sobre prematuridade, neurodesenvolvimento e intervenção precoce; (4) Desfechos neuromotores e cognitivos de prematuros aos 3 meses de idade corrigida em uma região do nordeste brasileiro: estudo piloto; e por fim (5) Proposição de um protocolo de intervenção hospital-casa: adaptação do SPEEDI para o contexto brasileiro. As análises dos dados mostram que o acesso aos serviços de estimulação precoce por prematuros no primeiro ano de vida configura uma razão muito inferior a uma consulta por ano, e que embora as mães estejam satisfeitas com a participação durante as primeiras etapas do Método Canguru, mais de 90% das díades acompanhadas não retornam para atendimento de fisioterapia no primeiro mês após alta hospitalar. Além disso, os familiares de prematuros apresentam uma percepção limitada acerca da prematuridade e da necessidade de intervenção no desenvolvimento desses bebês, o que contribui para que os desfechos cognitivos e motores se encontrem predominantemente abaixo da média aos 3 meses de idade corrigida para prematuridade. A proposta do SPEEDI, adaptado para o Brasil, como uma intervenção de transição hospital-casa pode ser uma solução inovadora e acessível que favoreça a superação das barreiras identificadas nesses estudos. Todos os estudos foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFRN e os sujeitos que aceitaram participar assinaram o TCLE.