Estresse pré-natal: efeitos em longo prazo no comportamento e no balanço dos metabólitos do triptofano
O estresse pré-natal (EPN) interfere diretamente na programação fetal, princípio pelo qual o ambiente endócrino e metabólico da mãe pode gerar consequências em longo prazo na prole adulta. Dentre as potenciais vias neuroquímicas afetadas pelo EPN, destaca-se a via das quinureninas, principal via de metabolismo do triptofano, relacionada à diversos transtornos psiquiátricos, mas pouco se sabe sobre sua relação com o EPN. Este estudo buscou investigar as consequências comportamentais e neuroquímicas do EPN, com ênfase nas monoaminas e nos metabólitos da via das quinureninas, na prole adulta de camundongos expostos ao EPN. Fêmeas prenhas de camundongos Swiss foram submetidas ao modelo de estresse por contenção associado com luz intensa três vezes por dia durante a última semana de gestação (dia 14-21). A prole adulta de machos e fêmeas submetida à EPN passou por testes comportamentais, incluindo: campo aberto, tarefa de reconhecimento de objetos, labirinto em cruz elevado, interação social e teste de suspensão pela cauda. Para a etapa neuroquímica, a prole adulta foi eutanasiada e seus encéfalos dissecados a fim de quantificar os níveis de triptofano, ácido quinolínico (QA), quinurenina, ácido 5-hidroxiindol acético (5-HIAA), serotonina (5-HT), dopamina e noradrenalina no hipocampo e no tronco encefálico, através da técnica de espectrometria de massa. O córtex pré-frontal (CPF) da prole foi também dissecado, a fim de avaliar a expressão gênica das seguintes enzimas: indoleamina 2,3-dioxigenase (IDO), quinurenina monoxigenase (KMO) e quinurenina-aminotransferase 3 (KYAT3), através da técnica de PCR em tempo real. Os resultados revelaram que a prole adulta submetida ao EPN apresentou: (1) prejuízo na tarefa de reconhecimento de objetos na prole macho e fêmea, com esta última sendo associado ao ciclo estral; (2) hiperatividade da prole macho, acessada pela maior distância total percorrida em campo aberto, bem como maior tempo de permanência nos braços fechados no teste de labirinto em cruz elevado, sugerindo fenótipo ansioso, sem alterações nos níveis de monoaminas, porém com alterações nos metabólitos da via das quinureninas, definidos por níveis mais altos de QA no hipocampo e no tronco encefálico e níveis mais altos de quinurenina e triptofano exclusivamente no hipocampo, (3) aumento de imobilidade no teste de suspensão pela cauda prole fêmea, sugerindo perfil depressivo, influenciado pelas fases do ciclo estral, e associado a níveis mais baixos de 5-HT no hipocampo e maior atividade de 5-HT no hipocampo e no tronco encefálico, (4) alteração na expressão gênica de enzimas relacionadas com a via das quinureninas, de forma que fêmeas EPN tiveram maior expressão de KYAT3 no hipocampo e de IDO no CPF, enquanto a prole macho apresentou níveis reduzidos de KMO no CPF. Em conclusão, este estudo revelou um perfil comportamental e neuroquímico sexo dependente como consequência do EPN tardio na prole de camundongos, avaliando como ponto chave o balanço de metabólitos do triptofano.