MICROTERRITÓRIOS DA RESISTÊNCIA: Socialidades em trânsito na cidade do Natal/RN
Capitalismo; Microterritórios; Socialidades; Resistência.
Vivemos um estado de guerra global. A nova fase da ordem política e econômica representada pelo capitalismo transnacional financeirizado instaurou uma realidade sitiada avançando sobre novos campos de controle subjetivos da população. O Estado-Nação opera sob a lógica da Necropolítica (MBEMBE, 2019) produzindo uma série de sintomas sociais nos indivíduos e nas formas de sociabilidades que desenvolvem. As grandes cidades mundiais como resposta às sucessivas crises econômicas aderiram ao chamado empreendedorismo urbano, estratégia econômica que confere às cidades o caráter de atores sociais, inseridas em uma rota internacional de serviços padronizados, vendidas em formato de produto. O empreendedorismo urbano em todo lugar em que se estabeleceu na medida em que atrai capital estrangeiro, acelera o processo de segregação social e gentrificação, a partir da desapropriação forçada de territórios e afastando, cada vez mais, os moradores para as margens dos grandes centros urbanos. Ao avaliar os impactos dessas medidas nos usos do espaço urbano é possível evidenciar uma disputa cada vez mais acentuada entre os interesses do capital financeiro internacional e a resistência de indivíduos que, em grupos, ressignificam suas práticas e usos desses espaços nas cidades a partir de microterritórios (GOMES, 2001), verdadeiros rizomas de novas experiências possíveis, lugares alternativos no sentido de conferirem um certo tipo de socialidade (MAFFESOLI, 2014) inerente aos interesses do uso oficial desses espaços. Este trabalho tem como objetivo evidenciar essas socialidades e suas práticas políticas desenvolvidas em quatro pontos na cidade do Natal/RN que constituem espaços alternativos utilizados como pontos de encontros de grupos (in)solváveis (VAINER, 2000). A metodologia é a cartografia social utilizada no sentido de mapear os pontos de convergência desses microterritórios e as práticas de utilização desses espaços, públicos e privados, da cidade. Os resultados apontam como características comuns aos microterritórios a resistência de grupos que, por não se adequarem a normatividade do oficial, o recusam, adaptando esses espaços às suas demandas específicas de lazer e entretenimento e, consequentemente, construindo novas experiências urbanas e práticas políticas.