Mineralogia de amígdalas de basaltos toleíticos mesozoicos do
extremo norte da Província Borborema – NE do Brasil
DIQUES RIO CEARÁ-MIRIM; BASALTOS SERRA DO CUÓ; ZEÓLITAS; FLUIDOS METEÓRICOS
Rochas vulcânicas, em especial basálticas, comumente apresentam vesículas geradas pelo escape (expansão) de gases durante o processo de resfriamento. Estas vesículas podem ser preenchidas (tornando-se amígdalas) por diferentes assembleias minerais por meio da circulação de fluidos hidrotermais ou meteóricos. A identificação e caracterização destas assembleias secundárias, bem como dos seus processos e condições de formação podem trazer inferências importantes sobre a história subsolidus das rochas vulcânicas, tais como a evolução e fatores composicionais e físico-químicos dos fluidos envolvidos, balanço químico e processos mineralizantes. A porção setentrional da Província Borborema foi, durante o Mesozoico, palco de importante vulcanismo continental toleítico relacionados à quebra de Gondwana e aberta do Atlântico Equatorial. Esse magmatismo manifesta-se principalmente como o enxame de diques Rio Ceará-Mirim (CMD) e os derrames Serra do Cuó (SCB), cujos basaltos e diabásios mostram-se frequentemente vesiculares e amigdaloidais. A caracterização detalhada da mineralogia secundária/hidrotermal nessas rochas é assunto ainda pouco explorado, de forma que este trabalho visa preencher esta lacuna com um estudo mineralógico sistemático das amígdalas de amostras selecionadas do CMD e SCB, com base na integração de dados petrográficos, de difração de raios X (DRX), termogravimétricos (TGA/DTA) e de química mineral (EDX). Os resultados mostram que as amígdalas no CMD são predominantemente monominerálicas, preenchidas com laumontita e, localmente, quartzo ou calcita. A laumontita foi provavelmente formada sob temperaturas em 125-260 o C, após um evento hidrotermal de maior temperatura que alterou a mineralogia primária para filossilicatos máficos. Nas amígdalas do SCB o preenchimento é poliminerálico e inclui a formação inicial de nontronita/saponita junto às paredes das cavidades, seguida pela precipitação de natrolita e/ou phillipsita, refletindo mudanças composicionais e de pH dos fluidos dos quais essas fases se precipitaram, sob temperaturas de até 250 o C. Infere-se que os componentes químicos necessários para a formação dessas assembleias minerais resultam da desestabilização e alteração do vidro vulcânico intersticial, dos minerais máficos e plagioclásio primários causados pela percolação de fluidos meteóricos nas rochas ainda em resfriamento. A variabilidade mineralógica observada nas amígdalas do CMD e SCB aponta para composições contrastantes desses fluidos que, em última instância, refletem as diferenças composicionais (químicas e mineralógicas) entre os dois vulcanismos.