Efeito térmico provocado pelo pluton ediacarano Umarizal em rochas do Grupo Seridó (RN):
implicações estruturais, mineralógicas e petrofísicas
Pluton Umarizal; auréola termal; Ediacarano; Província Borborema; NE do Brasil.
A porção nordeste da Província Borborema (PB), no nordeste do Brasil, caracteriza-se por um volumoso magmatismo Ediacarano intrusivo no embasamento gnáissico-migmatítico paleoproterozoico (Complexo Caicó) e em rochas metassupracrustais neoproterozoicas (Grupo Seridó). Neste contexto, o pluton Umarizal, foco deste trabalho, é classificado dentre os tipos ediacaranos como Suíte alcalina Charnoquítica (AlcCh). O objetivo principal desta pesquisa é a reavaliação de interpretações prévias através da aquisição de novos dados de campo, avaliação do mecanismo de alojamento, datação do evento plutônico e sua eventual cronocorrelação com o metamorfismo de contato nas unidades encaixantes e o modelamento termal do resfriamento do magma. Os resultados obtidos permitiram compreender aspectos evolutivos da suíte magmática, composta por três fácies petrográficas distintas, sendo a fácies Umarizal e Ação restritas ao pluton Umarizal e a fácies Lagoa encontrada como intrusões menores no pluton Tourão. De forma geral, a Suíte AlcCh é formada por quartzo sienitos e quartzo monzonito e seus equivalentes charnoquíticos. Em termos estruturais, o pluton principal está alojado entre as zonas de cisalhamento transcorrentes Portalegre de direção e Frutuoso Gomes de direção NE-SW e NW-SE respectivamente. Critérios cinemáticos sugerem que estes cisalhamentos tiveram movimentações sucessivas, iniciando com rejeito transcorrente sinistrógiro e extensional durante a colocação do magma Umarizal, finalizando com rejeito dextrógiro e contracional. Sincrônico à sua a colocação, formou-se uma auréola termal de até 1 km de espessura em rochas encaixantes da Formação Jucurutu, com associações metamórficas do tipo Buchan, registradas no par andaluzita / sillimanita em paragnaisse, escapolita em gnaisse calciossilicático e flogopita em mármore. A idade U-Pb de 583 ± 1,8 Ma, obtida em zircões de um neossoma, é similar, dentro da faixa de erro, às idades U-Pb em zircão dos plutons intrusivos Tourão (589,3 ± 4.4 Ma) e Umarizal (565 ± 22 Ma). Variações modais e litogeoquímicas configuram duas suítes, uma de provável derivação mantélica (gabro-noritos, anortositos) e outra crustal (granitos e charnoquitos), caracterizando, assim, uma associação do tipo anortosito - mangerito – rapakivi-granito - granito. A variação mineralógica desde as fácies menos diferenciadas até as mais evoluídas sugere condições predominantemente anidras (faialita, hiperstênio, diopsídio-hedenbergita) no início a subsaturadas em água no final da cristalização, favorecendo a formação de hornblenda e biotita. As condições iniciais de cristalização da suíte charnoquítica indicam controle pelo tampão faialita-magnetita-quartzo, com pressões de ~ 9 kbar e temperaturas na ordem de 900-1100 °C. Por outro lado, dados geotermobarométricos utilizando Al-in hornblenda permitiram calcular condições aproximadas de 4,5 ± 0,6 kbar e 755 ± 32 °C para o estágio final de cristalização. A integração de dados mineralógicos e petrofísicos das unidades plutônicas e das rochas de contato permitiu o modelar o resfriamento do magma, sendo coerente com condições de alto gradiente geotérmico (40 oC/km), pico do metamorfismo termal em 15.000 - 80.000 anos após o alojamento e estendendo-se de 1 a 2 km do contato. Considerando a existência de inúmeros outros corpos batolíticos de mesma idade nesta parte da PB, é possível que o Ediacarano tenha sido um período de extensivo aquecimento crustal sob condições de alto gradiente geotérmico, possivelmente pelo calor aportado por underplating de magmas máficos (gabro-noríticos).