INTERVENÇÕES PARA TRATAMENTO DAS NEOPLASIAS INTRAEPITELIAIS VULVARES DE TIPO USUAL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA E META-ANÁLISE
NIV, uNIV; HSIL, Neoplasia intraepitelial vulvar, Lesão escamosa intraepitelial de alto grau vulvar; HPV
Introdução: As neoplasias intraepiteliais vulvares de tipo usual, ou seja, ligadas ao HPV, são responsáveis por cerca de 20% dos casos de carcinoma espinocelular de vulva. Somente no ano de 2020, um total de 45.240 novos casos de carcinoma vulvar foram diagnosticados e a causa de 17.427 óbitos, de acordo com estudo que avaliou a incidência e mortalidade mundial de 36 tipos de câncer. Seu tratamento objetiva erradicar o tecido acometido, preservando ao máximo sua aparência e funcionalidade. Os tratamentos mais tradicionais e bem estabelecidos consistem em técnicas cirúrgicas, que apesar da vantagem de permitirem análise histológica do tecido, podem levar a piora de sintomas, visto que por vezes alteram a anatomia e deixam tecido cicatricial, além de alterações de sensibilidade, impactando de forma negativa a qualidade de vida e função sexual feminina. Nesse contexto, outras técnicas menos invasivas como procedimentos ablativos e uso de agentes tópicos têm sido estudadas a fim de se expandir as alternativas de tratamento, principalmente em casos de lesões extensas e multifocais, entretanto, estas nem sempre se mostram igualmente eficazes ou bem toleradas em decorrência de seus efeitos adversos. Objetivos: O presente estudo objetivou de forma primária avaliar a eficácia e de forma secundária os efeitos adversos e a adesão aos tratamentos propostos em vista de sua tolerabilidade. Metodologia: A revisão sistemática seguiu as diretrizes PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses). O protocolo deste estudo foi previamente registrado no PROSPERO International Prospective Register of Systematic Reviews (número de registro: CRD42023442818). Uma busca abrangente foi realizada nas bases de dados PubMed, Scopus, Web of Science, Embase e Cochrane Central Register of Controlled Trials, sem limitações quanto à data de publicação ou ao idioma e a pesquisa foi realizada em todas as bases em 5 de fevereiro de 2024. Ensaios clínicos randomizados que compararam qualquer forma de tratamento de lesões intraepiteliais vulvares de alto grau ao placebo ou a outros tratamentos foram incluídos. Os dados foram extraídos dos estudos selecionados por dois autores de forma independente. O risco de viés foi avaliado utilizando a ferramenta Cochrane Risk of Bias (RoB 2.0). O RevMan 5.4 foi usado para a síntese dos dados. O método GRADE (Grading of Recommendations Assessment Development and Evaluation) foi utilizado para avaliar a força das evidências. Resultados: A busca resultou em um total de 10.306 estudos e 8 atenderam aos critérios de inclusão e integram esta revisão. De acordo com a meta- análise, que incluiu dois dos estudos comparando o Imiquimod 5% ao placebo, foi observada a resolução total das lesões em 55.3% das mulheres do grupo intervenção e em nenhuma do grupo placebo (RR 18.21, IC de 95% 2.60–127.69), com qualidade de evidência moderada. Comparado ao Cidofovir 1% apresentou perfil similar de tolerabilidade e efeitos adversos, sendo os principais dor vulvar, prurido, fadiga e cefaléia. O grupo do cidofovir teve uma taxa de resposta completa de 57% (IC 90% 47-67) e o do imiquimod, 61% (IC 90% 50-71). Quando comparado aos tratamentos cirúrgicos ablativos e excisionais, o imiquimod 5% se mostrou bem tolerado e com uma forte tendência a não inferioridade. A aspiração cirúrgica ultrassônica causou menos cicatrizes que o método de vaporização com laser de CO2, com eficácia similar entre as técnicas. A pomada de sinecatequinas 10% ( Veregen®) foi bem tolerada e não apresentou efeitos adversos significativos. Ao se comparar o melhor resultado obtido em relação ao placebo, foi eficaz em relação à resolução clínica das lesões (p 0,002). O composto natural indol-3-carbinol (I3C) e o Omiganan embora também bem tolerados e com boa adesão aos protocolos, não demonstraram serem alternativas eficazes na resolução das lesões.