UMA BIOGRAFIA HISTÓRICO-DIDÁTICA DE BLAISE PASCAL: CONTRIBUIÇÕES À FORMAÇÃO DOCENTE
História; História da Ciência; Biografia; Formação Docente.
A perspectiva de biografia que compartilhamos para educação científica no contexto de formação docente não é explicitamente respaldada pela legislação brasileira vigente para o Ensino de Ciências Naturais e Matemática e pelo respectivo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), que apresentam considerações simplistas acerca do gênero biográfico. Inicialmente, buscamos fundamentação nos campos da História e da História da Ciência frente a recentes trabalhos de natureza didática que não apresentam sólidos fundamentos teóricos ao propor o uso de biografias no ensino. Têm-se, a partir desses campos, reflexões para elaborarmos uma biografia histórico-didática de Blaise Pascal. Tal escrito, que admite a perspectiva de história-problema, é o âmago do “produto educacional” elaborado. Sendo contrários a uma descrição acumulativa e linear de início, meio e fins cronológico e teleológico que caracterizou o gênero tanto na História quanto na História da Ciência, reconstruímos um passado com articulações entre a vida do biografado e seus contextos – indivíduo e sociedade em dialética –, diante da irresolúvel tensão entre um ser representativo e um ser único. Além disso, nossa biografia explicita a nova historiografia da ciência, fundamentos filosóficos subjacentes a esta e a legislação brasileira para o ensino, a fim de formar professores. Por quê? Há importância dada à inserção da História da Ciência no Ensino de Ciências Naturais e Matemática desde as últimas décadas do século XX, especialmente para discussões sobre Natureza da Ciência (NdC). No entanto, em paralelo, equívocos sobre o que é a História da Ciência, sobre como esta deveria ser escrita particularmente com fins educacionais, são apontados por Roberto Martins (2006) enquanto obstáculo para tal inserção. Por meio de uma biografia – categoria de trabalhos da historiografia –, visamos tratar possíveis hiatos que esses equívocos causam à formação docente, com consequências para educação básica. Concordamos com Thaís Forato, Maurício Pietrocola e Roberto Martins (2011) ao afirmarem que o conhecimento de pressupostos básicos da historiografia contribui “para uma leitura mais crítica das versões históricas presentes no ensino de ciências” (p. 36). Em menção a Michael Matthews (1995), desejamos “humanizar” o conhecimento científico ao associá-lo a indivíduos que criam as próprias vidas enquanto “fazem ciência”, porventura desenvolvendo uma rica epistemologia da ciência no âmbito da formação docente.