Uso do resíduo industrial de mangaba (Hancornia speciosa Gomes) para obtenção de produtos biotecnológicos.
Mangaba, Hancornia speciosa, enzimas, lignina, biofilmes.
Atualmente, a busca pelo uso integral de materiais lignocelulósicos é necessária na atenção ao meio ambiente, bem como na redução de custos e na valorização dessa matéria-prima. Entre esses materiais estão os resíduos agroindustriais amplamente empregados para a obtenção de diversos produtos como o óleo, extratos, enzimas, entre outros. Este estudo investiga o uso do resíduo despolpado de mangaba (Hancornia speciosa Gomes) que foi caracterizado, destacando-se o seu teor de óleo, e utilizando-o como substrato para a produção de enzimas (lipases, pectinases e poligalacturanases (PG)) por fermentação em estado sólido (FES) utilizando o fungo filamentoso Aspergillus niger IOC 4003. O resíduo de mangaba e seus extratos etanólicos foram avaliados quanto aos aspectos físico-químicos e bioativos, destacando-se principalmente, o teor de fenólicos totais e a capacidade antioxidante. Dentre as enzimas avaliadas, a poligalacturonase foi submetida à ensaios de estabilidade sob diferentes condições de temperatura e pH e aplicada na concentração de 1,0% no processo de clarificação do suco de mangaba. Destaca-se que o resíduo pós-fermentação foi usado para extração de lignina que foi aplicada na obtenção de biofilme de quitosana, avaliando-se a capacidade antioxidante destes bem como sua capacidade para aumentar o tempo de prateleira de mamão papaia (Carica papaya) após recobrimento. Os resultados mostraram que resíduo de mangaba possui atividade antioxidante com concentrações de compostos fenólicos totais de 564,1 ± 0,047 mg de equivalente de ácido gálico/g de óleo extraído e Atividade Antioxidante Total - TCA de 95,46 ± 1,58 mg de equivalente de ácido ascórbico/g de resíduo. Além disso, por FES foi possível produzir de lipases (50,11 ± 0,02 U/g), pectinases (0,45 ± 0,01 U/g) e poligalacturonases (76,32 ± 0,11 U/g). O extrato apresentou estabilidade à atividade de PG acima de 80% para temperaturas de 20 e 25 ° C, mantendo este nível de atividade por até 1 hora. No entanto, com redução significativa em temperaturas superiores a 40 °C. Em relação ao pH, a atividade da PG foi consideravelmente reduzida em pH alcalino e, em pH 4 e 5, a PG manteve sua atividade relativa acima de 50% por até 120 minutos. Quando aplicado com carga enzimática de 1,0 U/mL o extrato enzimático apresentou resultados satisfatórios no processo de clarificação do suco de mangaba permitindo uma redução de 34% na turbidez e 11% de viscosidade. Os biofilmes de quitosana a 2% adicionados com 0,1 % e 0,05% (m/m) de lignina alcalina apresentaram atividade antioxidante, com base na captura do radical DPPH. As frutas recobertas com as soluções filmogênicas tiveram seus tempos de prateleira aumentados. Dessa forma, o resíduo de mangaba apresenta-se como matéria-prima de baixo custo e com potencial para a produção de produtos biotecnológicos de interesse para a sociedade.