O DISCURSO E A FORMA: OS CENTROS CÍVICOS DE BRASÍLIA E BUCARESTE NUMA PERSPECTIVA COMPARADA (1950 – 1990)
Bucareste; Brasília; Construção; Urbanismo; Poder Político.
A emergência do urbanismo como ciência e técnica, surgida na segunda metade do século XIX, promoveu uma série de intervenções em cidades antigas ou a concepção e execução de cidades inteiramente novas em várias partes do mundo desde então, em particular ao longo do século XX. Esses projetos e experiências concretas de intervenção urbana tinham motivações diversas, de natureza social, política e econômica, por sua vez lastreadas por discursos diversos, frequentemente de natureza ideológica, que se manifestavam, por exemplo, num determinado projeto de nação e de sociedade que se desejava alcançar, a cidade, e mais particularmente, o seu centro cívico sendo, muitas vezes a prefiguração dessa nova realidade. Entre tantos outros casos está o do centro cívico da cidade de Bucareste. No dia 4 de março de 1977, Bucareste foi atingida por um forte terremoto de magnitude 7.3 na escala Richter, cerca de 1.500 pessoas morreram. O ditador Nicolae Ceausescu, que então governava a Romênia, iniciou a demolição e a reconstrução do centro cívico da capital romena. Na Romênia, a arquitetura e urbanismo foram utilizadas como símbolo do socialismo e sem dúvida serviu de ferramenta para controle do Estado. Os países que compunham a “Cortina de Ferro”, ou seja, países que depois da Segunda Grande Guerra passaram a pertencer ao Bloco Soviético, adotaram uma arquitetura de tendência monumental, profundamente motivada por fundamentos ideológicos. A cidade de Brasília/DF também foi erguida sob a égide da representação ideológica e da afirmação do poder político, mas diferentemente do desenho urbano de Ceausescu, ocorreu como símbolo de um regime pelo menos teoricamente democrático e de um sistema capitalista. Na construção de Brasília, a ênfase foi dada às edificações de prédios públicos que são representativos dos poderes que governam o país, localizados na Praça dos Três Poderes: o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Palácio Presidencial (Palácio do Planalto), principais representantes do poder governamental. Bucareste/RO, por sua vez, foi reformada sob a égide da representação ideológica e da afirmação do poder político num sistema socialista, ou seja, ambos representam discursos teoricamente opostos. Considerando que Brasília e Bucareste se situavam em sistemas socioeconômicos diferentes (capitalismo e socialismo) quando de sua construção e reconstrução respectivamente, é possível perceber, apesar dessas diferenças, em que medida soluções formais próximas podem servir para expressar ideologias diferentes? Assim, o objetivo geral desta pesquisa é compreender de que modo o discurso dos agentes responsáveis pela concepção e execução dos centros cívicos de Brasília e Bucareste se revelaram nessas intervenções e em que medida esse discurso e forma se assemelham. A pesquisa está sendo desenvolvida a partir do levantamento de dados sobre o urbanismo do século XX e dos discursos correspondentes, inclusive no que diz respeito às duas cidades, no intuito de compará-las entre si e apontar eventuais semelhanças existentes nos dois casos estudados.