Notícias > MESA REDONDA - O Afropessimismo: recepção no Brasil, efeitos e abrangência

RESUMO: De início, tomamos como ponto de partida a compreensão de que, mais do que uma vertente teórica do movimento da negritude, o afropessimismo se propõe a ser uma nova perspectiva de compreensão e  interpretação do mundo colonial. No entanto, considerando sua recente penetração na academia brasileira, ainda esbarramos em uma pergunta central e basilar: no que consiste o afropessimismo? Responder essa questão perpassa um exercício crítico/teórico que demanda um duplo entendimento: por um lado, trata-se de uma vertente teórica nascida no estudos críticos da raça norte americano, fato este que pode gerar em nós, brasileiros, latino-americanos, componentes do sul-global, uma dúvida acerca da viabilidade de uma real aplicação da perspectiva afropessimista à interpretação dos/as teóricos/as e pensadores/as brasileiros,/as, e também da crítica e análise das subjugações raciais e de gênero encontrados nessa realidade pulsante. De modo definitivo: é possível (ou ainda, necessário) abrasileirar o afropessimismo?  Ele cabe nos limites tupiniquis e, mesmo reenquadrado, ainda encontramos suficiência na sua amplitude? Por outro lado, é importante definir o afropessimismo como uma metateoria - que parte do pressuposto de que “negros não são sujeitos humanos, sendo, em vez disso, estruturalmente suportes inertes, ferramentas para a execução das fantasias e dos prazeres sadomasoquistas dos brancos e dos não negros” (Wilderson III). Ocorre que, se esta interpretação está corretamente posta, seria possível aproximar o afropessimismo de uma conceituação ancestral que rompa com as delimitações e demarcações promovidas pela lente colonial? Ou melhor, não seria a ancestralidade a resposta brasileira aos problemas colocados pelo afropessimismo? Se não, como fica essa relação?
É diante dessas duas proposições que a mesa se propõe a discutir a viabilidade, abrangência e limitações do afropessimismo, sustentando seu claro rompimento com a negritude e, consequentemente, com os teóricos críticos da raça, na mesma medida que estende a mão a autores/as contemporâneos/as para abrir o diálogo acerca desse movimento de dissolução de mundos e, consequentemente, dos referenciais que o sustentam. Isso inclui, por sua vez, uma necessidade absoluta de aproximação com as teorias brasileiras, seja na construção de pontes e diálogos, seja na formação de uma cisão que pretenda superar o próprio afropessimismo.
 
Portanto, a mesa em questão buscará explorar a recepção e os desdobramentos do afropessismismo no Brasil, como perspectiva para a análise da colonialidade, das relações raciais e de gênero, fazendo aproximação e aprofundamentos direcionados aos diálogos e reverberações dessa corrente. Para isso, 
 
O Prof. Osmundo Santos de Araújo Pinho (UFRB) discutirá a proposição central encontrada em “Cativeiro: Antinegritude e Ancestralidade”, a articulação entendida como uma, ou múltiplas, transformações entre a morte social como categoria ontológica, e ancestralidade como uma fenomenologia histórica. Dessa forma a experiência social/historica dos africanos escravizados nas Américas interpela os quadros conceituais categóricos, sustentados pelo afropessimismo como determinantes ontológicos. 
 
O Prof. Alexandro Silva de Jesus (UFPE) refletirá o afropessimismo em diálogo com o Notas sobre a atualidade da ferida colonial, ensaio-programa que orienta os esforços do grupo de pesquisa desAiyê: ferida colonial e dissolução de mundos. Nesse sentido, o pensamento afropessimista será avaliado no contexto de produção de uma leitura alternativa e em termos próprios sobre o mau encontro colonial. Em franco aceno à proposição de Osmundo, o percurso de sua reflexão também se esforçará para urdir, sob a disposição singular de nossa ferida e mediada pela imagem da barca aberta (Glissant), morte social e ancestralidade.


O Prof. Pedro João da Silva Bisneto (IFSP/UFRN) - Se o afropessimismo se define como uma metateoria, deve ser natural que, em seu processo de conceitualização, em inúmeros momentos, os teóricos afropessimistas esbarrem em concepções que, marcadas pela episteme ocidental, impossibilitem-nos prosseguir, havendo uma urgência em repensar tais conceitos. O que defendo aqui é que a ideia de história é resignificada e redesenhada pelo estabelecimento da morte social e da antinegritude, sendo necessário, a partir disso, tentar compreender se essa história ainda tem “salvação” ou se o fim da história é o cerne do afropessimismo. Para isso, me apoio em referenciais teóricos clássicos do afropessimismo, como Spillers e Wilderson, numa tentativa de elucidar os ditames de como seria uma nova leitura da história, ou melhor, uma leitura afropessimista da história.


PROGRAMAÇÃO:

DIA 24 de Setembro, Auditório C do CCHLA
 
18h00 :: Osmundo Pinho (UFRB), 'Morte social e Ancestralidade'
 
18h30 :: Alexandro de Jesus (UFPE),  'Impressões sobre a barca aberta: entre a des-esperança e a via ancestral'
 
19h00 :: Pedro João da Silva Bisneto (IFSP/UFRN), 'Uma leitura afropessimista da história: é possível repensá-la?!'
 
19h30 - Debate


Total carga horária = 2 horas
Local de realização: Auditório C do CCHLA 
OBS.: Os Professores Osmundo Pinho e Pedro João da Silva Bisneto participarão em modalidade remota.
 
As inscrições podem ser feitas via SIGAA ou, em caso de dificuldade, para o seguinte endereço email: sanfede@hotmail.it

Notícia cadastrada em 11/09/2025 11:05  

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