O interesse pela China, pelo seu desenvolvimento econômico recente e pela sua inserção internacional tem crescido significativamente no Brasil. Diversas são as razões que contribuem para que a atenção do público brasileiro se volte cada vez mais em direção ao gigante asiático. A China tornou-se o principal parceiro comercial do Brasil e, ao menos até o início da pandemia, o país era, desde 2003, a principal origem dos investimentos estrangeiros diretos feitos no Brasil. A crescente presença econômica chinesa no país tornou-se ainda mais notória durante a pandemia do coronavírus, quando o Brasil passou a depender da China para a aquisição de uma enorme gama de produtos para o combate à crise sanitária - desde equipamentos de proteção individual até insumos farmacêuticos ativos. Paralelamente, surgiu no Brasil um forte movimento anti-China, liderado pelos Estados Unidos e ecoado pelo Palácio do Planalto, enquanto cresceu em setores à esquerda a percepção de que a China constituiria uma alternativa, seja como um modelo a ser seguido, seja como promotora de uma ordem internacional benéfica.
Em um Brasil transformado em pária internacional e em pleno processo de regressão estrutural – no qual a desindustrialização se aprofunda, a miséria retorna com força, o desemprego é crônico e a precarização do trabalho normaliza-se –, é compreensível e necessário que a atenção do público brasileiro se volte à experiência chinesa, cuja trajetória de desenvolvimento econômico e ascensão internacional nas últimas décadas foram de um sucesso inegável. Esse olhar em direção à China não se esgota em derivar eventuais aprendizados de sua trajetória de desenvolvimento, mas também é uma condição inescapável para a compreensão da economia mundial e da ordem internacional contemporâneas nas quais o Brasil se insere e se move, que têm na China um de seus centros cíclicos principais e um de seus principais atores constitutivos.
É neste terreno profundamente complexo que o seminário “A China no Capitalismo Contemporâneo” busca tratar de temas de grande relevância para as transformações da economia e ordem internacional contemporâneas, que estão na pauta do dia dos governos, das instituições de ensino e pesquisa, das grandes empresas e dos cidadãos. O seminário organiza-se a partir de obra homônima, livro a ser lançado no primeiro semestre de 2022 pela editora Expressão Popular e organizado pela coordenadora desta proposta, Profa. Esther Majerowicz (UFRN), em conjunto com o Prof. Edemilson Paraná (UFC). O livro é um coletânea de seis capítulos de autoria de Carlos Aguiar de Medeiros (UFRJ), Esther Majerowicz (UFRN), Edemilson Paraná (UFC), Hao Qi (Renmin University of China), Isabela Nogueira (UFRJ) e Valéria Lopes Ribeiro (UFABC). Tratam-se de abordagens críticas da economia política e economia política internacional aplicadas à análise do desenvolvimento econômico chinês e da inserção internacional da China, oferecendo uma leitura que foge de estigmas ou frases de efeito, por meio de uma obra inspirada pelo espírito científico e pelo necessário distanciamento em relação às euforias denuncista ou celebratória em torno das quais o debate passou, em alguns ambientes, a ser polarizado, em prejuízo das análises e exames voltados à complexidade.
O seminário busca, portanto, reunir os autores do livro sediados no país e apresentar presencialmente as discussões desenvolvidas nesta obra aos alunos de graduação da UFRN, bem como à comunidade universitária em geral. O seminário será composto por uma atividade de abertura e lançamento do livro, três mesas, uma reunião de pesquisa fechada entre a coordenação do GEPD e os autores do livro e uma atividade de encerramento do seminário. A atividade de abertura do seminário e de lançamento do livro na UFRN, a reunião de pesquisa e a atividade de encerramento contarão com a presença de todos os autores do livro, exceto Hao Qi (Renmin University), por não estar sediado no Brasil.
No que diz respeito às três mesas do seminário, elas correspondem às três partes do livro. A mesa 1 é dedicada às caracterizações sobre o desenvolvimento econômico chinês. Nesta, o Prof. Carlos Aguiar de Medeiros (UFRJ) engaja-se no debate com múltiplas correntes a respeito da natureza do sistema econômico chinês, tal como o “socialismo de mercado”, o “socialismo com características chinesas” e o “capitalismo de Estado”. Medeiros denomina a experiência chinesa de “desenvolvimentismo com características chinesas”. Os Prof. Edemilson Paraná (UFC) e Profa. Valéria Ribeiro (UFABC) discutem o desenvolvimento chinês à luz de sua articulação com a economia capitalista global, sustentando que a ascensão econômica da China foi funcional à transformação do capitalismo nas últimas quatro décadas, particularmente à globalização liderada pelos Estados Unidos, ao menos até a crise de 2008. Os autores também se perguntam a respeito dos limites colocados para a ação desenvolvimentista chinesa.
A mesa 2 tem como escopo os processos de formação e reprodução das classes sociais na China pós-reformas. Enquanto a Profa. Esther Majerowicz (UFRN) concentra-se na dissolução do campesinato e na formação do proletariado chinês, a Profa. Isabela Nogueira (UFRJ) foca na formação e reprodução da burguesia nacional chinesa. Qual o papel do partido-Estado na formação do proletariado e da burguesia? Como esse processo de formação de classes altera e é alterado pela natureza do sistema econômico? Ao se engajar nessas transformações, como o partido-Estado é ele próprio transformado? Quais são os conflitos de classes que emergem, os conflitos das classes com a burocracia e como esses conflitos se manifestam dentro e fora do partido-Estado? Essas são as questões-chave que orientam as pesquisas das professoras e que a mesa buscará, na medida do possível, contribuir para elucidar.
A mesa 3 destina-se a debater a expansão global chinesa e a disputa tecnológica. Nesta, a Profa. Valéria Ribeiro (UFABC), ao abordar a expansão chinesa recente considerando o Estado, o capital e a acumulação em escala global, põe em evidência uma problemática que tende a se tornar cada vez mais relevante para a periferia do capitalismo global. A expansão global chinesa de fato corresponde àquela representada pelo discurso oficial do Partido Comunista Chinês – no qual a projeção externa das ações deste “socialismo com características chinesas” constituiria uma oportunidade concedida aos demais países para acentuarem seu desenvolvimento com manutenção de soberania, enquanto a China busca “resolver os problemas da humanidade”? Já a Profa. Esther Majerowicz (UFRN) trata a corrente disputa tecnológica entre China e Estados Unidos nas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). Estaria em curso uma nova Guerra Fria – como diversos autores propõem e como a retórica dos EUA vem avançando – que levará o mundo a uma “divisão digital”, isto é, à formação de dois sistemas de TIC compartimentalizados, liderados por cada uma dessas grandes potências? São essas as questões centrais que a mesa buscará abordar e que aparecem cotidianamente no debate público no Brasil e no mundo.
Programação
Dia
Horário
Atividade
21-06
19h
Abertura do seminário e lançamento do livro
Prof. Carlos Aguiar de Medeiros (UFRJ), Profa. Esther Majerowicz (UFRN), Prof. Edemilson Paraná (UFC), Profa. Isabela Nogueira (UFRJ) e Profa. Valéria Lopes Ribeiro (UFABC).
19h30
Mesa 1: “Caracterizações sobre o Desenvolvimento Econômico chinês”
Prof. Carlos Aguiar de Medeiros (UFRJ); Prof. Edemilson Paraná (UFC); Profa. Valéria Ribeiro (UFABC).
Mediação: Profa. Esther Majerowicz (UFRN)
22-06
11h
Reunião fechada de pesquisa - coordenação do GEPD e Prof. Carlos Aguiar de Medeiros (UFRJ), Prof. Edemilson Paraná (UFC), Profa. Isabela Nogueira (UFRJ) e Profa. Valéria Lopes Ribeiro (UFABC).
Mesa 2: “A Formação das Classes Sociais na China Pós-Reformas”
Profa. Esther Majerowicz (UFRN); Profa. Isabela Nogueira (UFRJ).
Mediação: Prof. Edemilson Paraná (UFC)
23-06
Mesa 3: “A Expansão Global Chinesa e a Disputa Tecnológica”
Profa. Valéria Ribeiro (UFABC); Profa. Esther Majerowicz (UFRN).
Mediação: Prof. Edemilson Paraná
21h
Encerramento
Prof. Carlos Aguiar de Medeiros (UFRJ), Profa. Esther Majerowicz (UFRN), Prof. Edemilson Paraná (UFC), Profa. Isabela Nogueira (UFRJ) e Profa. Valéria Ribeiro (UFABC).
Discentes de graduação do curso de ciências econômicas e dos cursos de graduação em ciências humanas
Economistas, quadros técnicos de governos, movimentos sociais
Lançamento
21/06
22/06
23/06
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